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RECUO OPORTUNO
No que talvez seja uma vitória
da prudência sobre o belicismo, os Estados Unidos recuaram de
suas posições mais duras contra o
Iraque no Conselho de Segurança
(CS) das Nações Unidas. Washington desistiu de exigir que o CS aprove
uma resolução que autoriza automaticamente o uso da força contra Bagdá, caso Saddam Hussein não permita o trabalho dos inspetores de armas. Diante da forte oposição à guerra manifestada por dezenas de países, particularmente pela França e pela Rússia, membros permanentes
do CS, o governo de George W. Bush
concordou em negociar novos termos para uma resolução.
Ainda não está clara a forma que terá a nova decisão do CS, mas ela não
deverá mais ser um cheque em branco para os EUA atacarem quando
quiserem. É provável que a nova resolução determine que Saddam receba os inspetores sob pena de sofrer
"as consequências". Na hipótese de
o ditador iraquiano impedir a ação
do pessoal da ONU, o CS voltaria a se
reunir para, daí sim, aprovar um texto mais enérgico, que permitiria aos
EUA atacar. Esse é mais ou menos o
teor da posição do presidente francês, Jacques Chirac, que liderou a resistência aos EUA na ONU.
Não se pretende negar que o Iraque
com suas armas de destruição em
massa represente uma ameaça à paz
mundial. Saddam Hussein é de fato
um perigo e precisa ser detido. Só
que existem inúmeras maneiras de
fazê-lo e a guerra deve ser o último
dos últimos recursos. Antes de lançar mais bombas sobre o Iraque é
preciso dar uma chance real aos inspetores de armas e à diplomacia. Como lembrou o presidente francês no
início da crise, a política externa deve
ser feita "com alguns princípios e
um pouco de ordem".
Seja como for, o recuo americano é
uma notícia auspiciosa. Mostra que
mesmo os Estados Unidos de George W. Bush, com toda a sua supremacia militar e seu unilateralismo,
precisam por vezes dar ouvidos à comunidade internacional.
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