São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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RECUO OPORTUNO

No que talvez seja uma vitória da prudência sobre o belicismo, os Estados Unidos recuaram de suas posições mais duras contra o Iraque no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas. Washington desistiu de exigir que o CS aprove uma resolução que autoriza automaticamente o uso da força contra Bagdá, caso Saddam Hussein não permita o trabalho dos inspetores de armas. Diante da forte oposição à guerra manifestada por dezenas de países, particularmente pela França e pela Rússia, membros permanentes do CS, o governo de George W. Bush concordou em negociar novos termos para uma resolução.
Ainda não está clara a forma que terá a nova decisão do CS, mas ela não deverá mais ser um cheque em branco para os EUA atacarem quando quiserem. É provável que a nova resolução determine que Saddam receba os inspetores sob pena de sofrer "as consequências". Na hipótese de o ditador iraquiano impedir a ação do pessoal da ONU, o CS voltaria a se reunir para, daí sim, aprovar um texto mais enérgico, que permitiria aos EUA atacar. Esse é mais ou menos o teor da posição do presidente francês, Jacques Chirac, que liderou a resistência aos EUA na ONU.
Não se pretende negar que o Iraque com suas armas de destruição em massa represente uma ameaça à paz mundial. Saddam Hussein é de fato um perigo e precisa ser detido. Só que existem inúmeras maneiras de fazê-lo e a guerra deve ser o último dos últimos recursos. Antes de lançar mais bombas sobre o Iraque é preciso dar uma chance real aos inspetores de armas e à diplomacia. Como lembrou o presidente francês no início da crise, a política externa deve ser feita "com alguns princípios e um pouco de ordem".
Seja como for, o recuo americano é uma notícia auspiciosa. Mostra que mesmo os Estados Unidos de George W. Bush, com toda a sua supremacia militar e seu unilateralismo, precisam por vezes dar ouvidos à comunidade internacional.


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