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ELIANE CANTANHÊDE
Volta às origens
BRASÍLIA - O PMDB perde nestas eleições. Perde mesmo? Ou perde em
quantidade e ganha em qualidade?
O partido que foi a grande trincheira contra a ditadura, que foi a casa
de Ulysses Guimarães e que comandou o processo de redemocratização
acabou em Irajá. Foi só chegar ao poder. Agora é hora de recuperação.
A perda de bancada na Câmara foi
de 33%, e grandes caciques dos últimos anos estão a caminho de casa,
mas líderes históricos vêm chegando
ao primeiro plano. Orestes Quércia e
Newtão Cardoso não se elegeram. Jader Barbalho, que já foi presidente do
Senado, volta rebaixado a deputado.
Na outra ponta, Jarbas Vasconcelos
(PE) se reelegeu com a segunda
maior votação do país (60,42%), e o
PMDB pode fazer os três governadores do Sul: Germano Rigotto (RS),
Luiz Henrique da Silveira (SC) e Roberto Requião (PR).
O que os dois grupos têm de diferente vem de longe: os derrotados
vêm sofrendo implacável processo de
desgaste; os vencedores (mesmo que
não se elejam ao final) mantêm a
imagem pública preservada.
Ao subir os degraus do poder no governo que seria de Tancredo Neves e
acabou sendo de José Sarney, oriundo da Arena e do PDS, o PMDB pagou enorme preço: caiu na farra, engordou muito, perdeu a identidade.
Agora, ao descer os degraus do poder com FHC, acossado pelas poucas
chances de voltar a subir com José
Serra, o partido parece estar sofrendo
uma depuração natural, pelas urnas.
Que pode, talvez, ajudar em uma salutar volta às origens.
O PMDB se dividiu ao meio, consumindo anos com o ser-ou-não-ser
FHC: de um lado, participar ou não
das reformas e privatizações; de outro, ter ou não cargos e benesses. Agora, o divisor de águas passa a ser mais
edificante: para ser futuro, precisa
voltar ao passado. É lá que deveria
buscar a renovação da cúpula. Em
Jarbas Vasconcelos, por exemplo.
Uma intensa e, às vezes, autofágica
sacudida de direção e de lideranças
deve ocorrer no PSDB e no PFL, mas,
no PMDB, não é questão apenas de
oportunidade. É de sobrevivência.
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