São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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MARCELO BERABA

Bicho solto

RIO DE JANEIRO - Os traficantes do Rio estão barbarizando porque estão enfraquecidos e desesperados ou porque continuam fortes?
O governo estadual tem, evidentemente, a tese de que os seguidos desafios ao poder público são fruto do desespero que teria tomado conta do Comando Vermelho porque: 1) seus principais líderes estariam presos; 2) as armas e as drogas não estariam chegando com tanta facilidade; 3) os negócios estariam sendo afetados e os lucros, desabando.
A favor da tese estão as 1.700 prisões que o governo diz ter feito desde que assumiu, em abril. É verdade também que, desde o massacre de Bangu 1, os principais chefes do CV estão isolados, sem contato externo. Houve um endurecimento visível. Os bens dos maiores traficantes estão sendo rastreados. Isso tudo pode causar a asfixia momentânea do crime.
Mas o grau inédito de articulação que os traficantes têm demonstrado é um indicador de força. O massacre em Bangu 1, a paralisação da cidade às vésperas do primeiro turno e a tentativa de fuga em Bangu 3, concatenada com ataques em vários pontos distintos e emblemáticos da cidade, demonstram vitalidade e um razoável grau de organização.
Essa capacidade veio crescendo ao longo do governo Garotinho e agora está nítida no governo de Benedita.
Na década de 80, a chegada das drogas e das armas e o surgimento dos comandos mudaram as características da criminalidade na cidade. É possível que agora estejamos no limiar de uma nova fase, que pode resultar tanto na ampliação do poder do tráfico como no seu controle em níveis suportáveis.
Para a população amedrontada, a resposta à pergunta inicial -os ataques à cidade são sinais de fraqueza ou de força do narcotráfico?- é indiferente. Tanto faz saber se o bicho está solto porque fugiu ou porque o soltaram. No Rio, o bicho está solto.


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