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MARCELO BERABA
Bicho solto
RIO DE JANEIRO - Os traficantes do Rio estão barbarizando porque estão
enfraquecidos e desesperados ou porque continuam fortes?
O governo estadual tem, evidentemente, a tese de que os seguidos desafios ao poder público são fruto do desespero que teria tomado conta do
Comando Vermelho porque: 1) seus
principais líderes estariam presos; 2)
as armas e as drogas não estariam
chegando com tanta facilidade; 3) os
negócios estariam sendo afetados e os
lucros, desabando.
A favor da tese estão as 1.700 prisões que o governo diz ter feito desde
que assumiu, em abril. É verdade
também que, desde o massacre de
Bangu 1, os principais chefes do CV
estão isolados, sem contato externo.
Houve um endurecimento visível. Os
bens dos maiores traficantes estão
sendo rastreados. Isso tudo pode causar a asfixia momentânea do crime.
Mas o grau inédito de articulação
que os traficantes têm demonstrado é
um indicador de força. O massacre
em Bangu 1, a paralisação da cidade
às vésperas do primeiro turno e a tentativa de fuga em Bangu 3, concatenada com ataques em vários pontos
distintos e emblemáticos da cidade,
demonstram vitalidade e um razoável grau de organização.
Essa capacidade veio crescendo ao
longo do governo Garotinho e agora
está nítida no governo de Benedita.
Na década de 80, a chegada das
drogas e das armas e o surgimento
dos comandos mudaram as características da criminalidade na cidade.
É possível que agora estejamos no limiar de uma nova fase, que pode resultar tanto na ampliação do poder
do tráfico como no seu controle em
níveis suportáveis.
Para a população amedrontada, a
resposta à pergunta inicial -os ataques à cidade são sinais de fraqueza
ou de força do narcotráfico?- é indiferente. Tanto faz saber se o bicho está solto porque fugiu ou porque o soltaram. No Rio, o bicho está solto.
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