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ÁRABES E DEMOCRACIA
Numa iniciativa excepcional, sauditas saíram às ruas de
Riad para pedir democracia. Como
era previsível, foram recebidos a golpes de cassetete e gás lacrimogêneo.
Seja como for, a monarquia saudita
já sinalizou com avanços. Prometeu
que a população poderá votar pela
primeira vez no ano que vem. Foi-lhe
concedido o direito de escolher a metade dos vereadores das 14 câmaras
municipais. A outra metade será indicada pelo governo.
Não é exatamente uma novidade
afirmar que a democracia é quase
uma ficção no mundo árabe. E não o
é porque o conceito de democracia
não signifique nada por lá. Pelo contrário, os dirigentes se importam
-talvez até exageradamente- em
parecer democráticos. Seus líderes
frequentemente reclamam terem sido eleitos com índices expressivos:
Saddam Hussein, o epígono da popularidade, obteve 100% dos votos
em 2002; mais modesto, o antigo
presidente Hafez al Assad, da Síria,
conseguia maiorias de 95%.
O acinte se repete mesmo em países que parecem mais democráticos.
Em 2002, o presidente Zin el Abidin
Ben Ali, da Tunísia, ficou com
99,52%, vitória ligeiramente superior
à última de Hosni Mubarak, do Egito, com 93,8% dos votos em 1999.
A verdade é que, embora no Ocidente esclarecido a democracia seja
percebida como um valor universal,
ela está muito longe de sê-lo. Ninguém de bom senso cogitaria, por
exemplo, de intervir numa aldeia ianomâmi para levar a democracia aos
índios. Nesse caso, é evidente que a
autodeterminação ianomâmi, seus
usos e costumes, devem ser respeitados. Por outro lado, parece fazer sentido reclamar eleições diretas e transparentes numa nação como a China
ou num país como Cuba.
Até que ponto a autodeterminação
deve ser respeitada? A partir de que
grau de urbanidade e desenvolvimento -ou de ocidentalização- a
democracia se torna um imperativo?
Essas perguntas não têm respostas
triviais. Muito pelo contrário, elas
nos remetem a novas e mais embaraçosas questões. Se os países árabes já
estão prontos para que deles se exija
uma democracia real, por que o Ocidente apoiou quase que maciçamente o golpe da Argélia de 1992, quando
o governo laico impediu que os fundamentalistas que haviam vencido as
eleições assumissem seus postos?
No fundo, vale a célebre observação do estadista britânico Winston
Churchill: "A democracia é a pior
forma de governo exceto todas as outras que foram experimentadas de
tempos em tempos". Não devemos,
portanto, glamorizá-la, mas apenas
preconizá-la como remédio contra
governos ainda piores. E é certo que
os países árabes seriam beneficiados
com sua adoção.
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