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FERNANDO DE BARROS E SILVA
No vácuo de Lula
SÃO PAULO - Lula acredita que o
Tribunal de Contas da União é um
entrave ao progresso do país. Seu
governo quer manietar o TCU para
reduzir os efeitos práticos da fiscalização das obras e da aplicação dos
recursos públicos. Lula também
disse há pouco que a imprensa não
deve fiscalizar o poder, mas informar seus leitores. Se for mais que
um jogo de palavras, trata-se de
uma defesa do jornalismo subalterno. Seria, claro, um enorme retrocesso, mas o traço obscurantista foi
logo assimilado ao repertório de
disparates de Lula a que, afinal, estamos habituados.
O lulismo começou esvaziando a
desconfiança dos mercados. Depois
esvaziou os partidos, os movimentos sociais, os sindicatos autônomos, o que restava de vida intelectual independente no país.
Lula ficou cheio de si e hoje aglutina um poder quase incontrastável. Mas, apesar das bobagens que
diz, se mantém um democrata. Talvez tenha razão quem acha que Lula representa a parte boa do PT.
Sua aclamação popular, porém,
dá ensejo para que o governo venha
flertar com tentações autoritárias,
bem ao gosto dos "neoestatólatras".
Parece ser este o caso da Confecom
-a conferência organizada por
Franklin Martins para discutir a regulação das comunicações no país.
Segundo as propostas compiladas pelo Planalto, e reportadas ontem por esta Folha, fica claro que a intenção é expandir e facilitar os
negócios da mídia estatal, como a
TV Brasil, que ninguém vê, e fortalecer a mídia privada regional e/ou
comunitária, que hoje já é dependente da verba do Estado e na prática faz propaganda do governo.
Sob a retórica da democratização, o
que se busca é esvaziar a imprensa
independente, aquela que fiscaliza
e dá azia em Lula todas as manhãs.
Seria essa uma demanda da sociedade e da democracia ou uma
agenda motivada por algum ressentimento pessoal? Seria uma iniciativa da gestão Lula ou do governo
paralelo que o futuro primeiro-ministro começa a operar a serviço de
Dilma Rousseff?
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