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CARLOS HEITOR CONY
Relíquias do nosso tempo
RIO DE JANEIRO - O guitarrista dos
Rolling Stones, cujo nome e cujos feitos não consigo guardar, está atravessando aquilo que antigamente se
chamava de "cabo da Boa Esperança" etário, ou seja, começa a penetrar
no sombrio átrio da terceira idade,
que costuma ser a última e a menos
divertida.
Disse ele que, apesar dos anos acumulados, da extensa quilometragem
na vida em geral, "as mocinhas de 20
anos ainda me atiram suas calcinhas". Não tenho elementos para investigar a questão e, na realidade, ela
não me interessa e não sei a quem
possa interessar a não ser ao próprio
guitarrista e às mocinhas que tentam
seduzi-lo com o apelo cru e nu de
uma peça íntima que, segundo os entendidos, constitui um dos fetiches
mais óbvios da sexualidade, embora
muitos homens prefiram os sapatos
-o que parece dar na mesma para
quem gosta da coisa.
Pulo do guitarrista inglês para o
Raposão português, imortalizado por
Eça de Queirós em "A Relíquia". Tratava-se também da peça íntima de
uma aventureira. Na troca das malas
de viagem, a calcinha foi apresentada à tia do personagem, uma devota
alucinada por coisas santas, como a
própria coroa de espinhos que dilacerou a cabeça do Salvador.
Nesse particular, a vantagem é do
guitarrista inglês. Não sei se ele coleciona as calcinhas que as jovens de 20
anos lhe atiram. Nem entendo como,
pelas calcinhas, ele pode chegar à
idade das moças. Deve ser realmente
um entendido.
Tive um amigo que despertou os
baixos instintos de sua empregada.
Ela lhe roubava as cuecas. Há gosto
para tudo. Agora me lembrei de que,
em sua temporada no Rio, esse mesmo guitarrista jogou as meias que
usava para as fãs aglomeradas no
pátio do hotel em que estava hospedado.
As meias foram disputadas aos
dentes e aos pescoções pela turba ensandecida. Cada corcunda sabe como deve dormir. Depois reclamam
quando o Enéas proclama que o
mundo está perdido.
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