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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A ditadura continua

SÃO PAULO - O governo do PT já tem um pecado político grave no seu acervo: não conseguiu romper a ditadura do tal pensamento único -o ideário neoliberal, Consenso de Washington ou que diabo se queira chamá-lo-, que se tornou hegemônico no planeta desde que o comunismo morreu faz uns 10 anos.
O debate em torno da reforma da Previdência é a mais clara, embora não a única, evidência dessa incapacidade: quase todo ele se dá em torno do caixa do Tesouro.
Nada contra. Já escrevi dezenas de vezes que equilíbrio das contas públicas não é um problema ideológico, mas de sentido comum. Ninguém pode, indefinidamente, gastar mais do que ganha.
Mas não pode ser o único critério. O outro, tão ou mais importante, deveria ser o seguinte: o brasileiro, como qualquer ser humano, tem direito a uma aposentadoria digna.
Hoje, não há um só brasileiro que possa viver dignamente se depender apenas da aposentadoria oficial, a não ser um punhado restrito de funcionários públicos graduados.
Já sei que o coro dos conformistas, dos rendidos ao "não dá para fazer nada", vai replicar que é impossível, ao mesmo tempo, atender as contas públicas e a dignidade dos aposentados. Se é assim, então é melhor fechar ministérios, academias, institutos de pesquisas, jornais etc. e entregar o destino da pátria aos contadores.
Eles saberão, melhor que ninguém, fazer a conta de chegar.
Políticos (na acepção nobre que a palavra deveria ter, mas está caindo em desuso) e pensadores estão dispensados.
Ressalve-se, no debate, a posição da CUT, que tem, sim, defendido um teto condigno para a aposentadoria de todos (R$ 4 mil ou 20 salários mínimos). Sei que a ditadura do pensamento único deve estar olhando de esguelha para a central sindical, como se fosse crime pensar em gente e não apenas no caixa.
Conciliar uma coisa e a outra é a única coisa para a qual servem pensadores, ministros e, em última instância, presidente da República ou primeiro-ministro.



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