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CLÓVIS ROSSI
A ditadura continua
SÃO PAULO - O governo do PT já tem um pecado político grave no seu acervo: não conseguiu romper a ditadura
do tal pensamento único -o ideário
neoliberal, Consenso de Washington
ou que diabo se queira chamá-lo-,
que se tornou hegemônico no planeta
desde que o comunismo morreu faz
uns 10 anos.
O debate em torno da reforma da
Previdência é a mais clara, embora
não a única, evidência dessa incapacidade: quase todo ele se dá em torno do
caixa do Tesouro.
Nada contra. Já escrevi dezenas de
vezes que equilíbrio das contas públicas não é um problema ideológico,
mas de sentido comum. Ninguém pode, indefinidamente, gastar mais do
que ganha.
Mas não pode ser o único critério. O
outro, tão ou mais importante, deveria ser o seguinte: o brasileiro, como
qualquer ser humano, tem direito a
uma aposentadoria digna.
Hoje, não há um só brasileiro que
possa viver dignamente se depender
apenas da aposentadoria oficial, a
não ser um punhado restrito de funcionários públicos graduados.
Já sei que o coro dos conformistas,
dos rendidos ao "não dá para fazer
nada", vai replicar que é impossível,
ao mesmo tempo, atender as contas
públicas e a dignidade dos aposentados. Se é assim, então é melhor fechar
ministérios, academias, institutos de
pesquisas, jornais etc. e entregar o destino da pátria aos contadores.
Eles saberão, melhor que ninguém,
fazer a conta de chegar.
Políticos (na acepção nobre que a
palavra deveria ter, mas está caindo
em desuso) e pensadores estão dispensados.
Ressalve-se, no debate, a posição da
CUT, que tem, sim, defendido um teto
condigno para a aposentadoria de todos (R$ 4 mil ou 20 salários mínimos).
Sei que a ditadura do pensamento
único deve estar olhando de esguelha
para a central sindical, como se fosse
crime pensar em gente e não apenas
no caixa.
Conciliar uma coisa e a outra é a
única coisa para a qual servem pensadores, ministros e, em última instância, presidente da República ou primeiro-ministro.
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