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ELIANE CANTANHÊDE
E não é de hoje...
BRASÍLIA - Em junho de 94, o petista Lula beirava os 40% das intenções de
voto para a Presidência e recebeu sinais explícitos de simpatia do senador José Sarney (do PMDB) e de seus
filhos (do PFL).
Na época, os adversários maranhenses da família levaram na galhofa, justificando que, nas eleições,
cada Sarney pula num barco até que
as pesquisas empurrem todos juntos
para o vitorioso. Bem, no final, foram
mesmo para FHC.
Mas, pelo sim (dos Sarney) e pelo
não (dos adversários), Lula gostou
da, digamos, gentileza de 94.
Mais adiante, em 13 de junho de 97,
quando andaram questionando o
apartamento onde Lula morava no
ABC paulista, Sarney publicou na
pág. A2 da Folha um artigo quase
apaixonado de defesa ética e moral
do adversário petista.
Era ano pré-eleitoral, e Lula novamente concorreria contra FHC em
98. Ficou emocionado com a nova
gentileza do ex-presidente.
Nas eleições de 2002, Roseana Sarney retirou a candidatura e tentou
apoiar Ciro Gomes, mas o pai desde
logo preferia Lula. Conto aqui, inclusive, uma rápida história. Sarney
soube que todos os jornais sairiam no
dia seguinte com a adesão da família
a Ciro e me mandou um recado por
um assessor: "Avisa para a Folha que
não é verdade. Minha tendência é
pró-Lula". E foi.
Mais uma vez, Lula ficou agradecido. E manteve a gratidão mesmo depois, quando Sarney explicou que o
país tinha que passar pelo "gargalo
do PT". Então, que passasse logo.
Somando tudo, tem-se o resultado
de agora: apesar de repetir o velho
blablablá de que não se meteria no
Parlamento, o governo Lula jogou
tudo na vitória de Sarney para a presidência do Senado.
Lula agiu por pragmatismo, porque acha que Sarney dará menos
trabalho que outros candidatos. Mas
também agiu com o coração. Essa,
aliás, é uma característica do presidente. Decide tudo, muito mais do
que se esperava, e não raro com o coração. Pode ser bom, pode ser ruim.
Vamos ver.
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