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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

E não é de hoje...

BRASÍLIA - Em junho de 94, o petista Lula beirava os 40% das intenções de voto para a Presidência e recebeu sinais explícitos de simpatia do senador José Sarney (do PMDB) e de seus filhos (do PFL).
Na época, os adversários maranhenses da família levaram na galhofa, justificando que, nas eleições, cada Sarney pula num barco até que as pesquisas empurrem todos juntos para o vitorioso. Bem, no final, foram mesmo para FHC.
Mas, pelo sim (dos Sarney) e pelo não (dos adversários), Lula gostou da, digamos, gentileza de 94.
Mais adiante, em 13 de junho de 97, quando andaram questionando o apartamento onde Lula morava no ABC paulista, Sarney publicou na pág. A2 da Folha um artigo quase apaixonado de defesa ética e moral do adversário petista.
Era ano pré-eleitoral, e Lula novamente concorreria contra FHC em 98. Ficou emocionado com a nova gentileza do ex-presidente.
Nas eleições de 2002, Roseana Sarney retirou a candidatura e tentou apoiar Ciro Gomes, mas o pai desde logo preferia Lula. Conto aqui, inclusive, uma rápida história. Sarney soube que todos os jornais sairiam no dia seguinte com a adesão da família a Ciro e me mandou um recado por um assessor: "Avisa para a Folha que não é verdade. Minha tendência é pró-Lula". E foi.
Mais uma vez, Lula ficou agradecido. E manteve a gratidão mesmo depois, quando Sarney explicou que o país tinha que passar pelo "gargalo do PT". Então, que passasse logo.
Somando tudo, tem-se o resultado de agora: apesar de repetir o velho blablablá de que não se meteria no Parlamento, o governo Lula jogou tudo na vitória de Sarney para a presidência do Senado.
Lula agiu por pragmatismo, porque acha que Sarney dará menos trabalho que outros candidatos. Mas também agiu com o coração. Essa, aliás, é uma característica do presidente. Decide tudo, muito mais do que se esperava, e não raro com o coração. Pode ser bom, pode ser ruim. Vamos ver.



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