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CARLOS HEITOR CONY
De idéias e dentes
RIO DE JANEIRO- Leio o título de
matéria publicada em jornais: "FHC
acusa Lula de ser mais conservador
do que ele". Não é caso para entrar
no mérito da questão, no chamado
julgamento de valor, que se resume
em estabelecer o grau de quanto um e
outro são conservadores.
Para quem está se lixando em ser
conservador, liberal, progressista,
reacionário, revolucionário, fazendo
aquilo e andando para qualquer tipo
de classificação religiosa, política, literária ou esportiva, a briga entre o
atual presidente e o ex para saber
quem é mais isso do que o outro nem
divertida é.
Lembro um debate na TV entre
dois finados amigos: o deputado
Eduardo Mascarenhas, psiquiatra,
homem de bem, ligado à esquerda; e
o escritor José Guilherme Merquior,
diplomata de carreira, acadêmico, tido e havido como homem de direita.
Lá pelas tantas, Mascarenhas jogou
em cima dos conservadores todos os
males da humanidade, desde o golpe
de 1964 até a cara raspada de grande
parte da população mundial (ele
usava barba e era um homem bonito, diria até que belo, foi casado com
a minha amiga Cristiane Torloni e
era devoto do Brizola, que por sinal
não usava barba e era conservador
até na maneira de comer churrasco.
Também fui devoto dele, em termos
pessoais).
Merquior tinha uma inteligência
diabólica -para dizer o óbvio. Com
um riso igualmente diabólico, respondeu que havia muita coisa a ser
conservada, além das sardinhas,
azeitonas e pêssegos em compota. Citou o fato de ambos estarem vestidos,
de tomarem banho todos os dias e escovarem os dentes.
Por falar em dentes, lembro outro
amigo também falecido. Sempre que
podia -e mesmo quando não podia-, Paulo Francis falava mal dos
ternos quadradões e dos dentes cariados dos dirigentes da União Soviética, também falecida.
Sem a brilhante acuidade do Francis, nunca reparei nos dentes de Lula
e de FHC. Dou de barato que são escovados todos os dias.
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