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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Ao caro leitor,
para sua meditação
O número é assustador: R$ 1,097
trilhão! O cálculo foi realizado
pelo ex-ministro da Previdência Social, o professor José Cechin ("Um
rombo trilionário", "O Globo", 13/2).
Trata-se do déficit acumulado da Previdência Social referente à União, Estados e municípios. É um valor superior ao da dívida pública, que é de R$
1,002 trilhão.
Os dois números dizem respeito a
duas dívidas que precisam ser
honradas: a primeira, com os aposentados, pensionistas e assistidos; a segunda, com os poupadores e detentores de títulos públicos.
A reforma previdenciária realizada
em 2003 ajudou muito pouco. Os
grandes desequilíbrios continuaram
vivos e precisam ser eliminados. Dentre eles, destacam-se a necessidade de
(1) fixar uma idade mínima progressiva para aposentadoria; (2) equalizar a
aposentadoria de homens e mulheres,
assim como de professores e demais
trabalhadores; (3) equacionar o déficit
causado pelos aposentados que nunca
contribuíram para a Previdência Social (em especial os do meio rural); (4)
ajustar os aumentos do salário mínimo às receitas da Previdência Social
ou buscar um regime que evite os seus
impactos negativos.
A correção desses desequilíbrios está por ser feita. É claro que isso envolve medidas impopulares. Mas é da
responsabilidade do estadista garantir
a proteção das gerações futuras. Do
jeito que está, o sistema quebrará em
pouco tempo, criando uma devastação social para os idosos, doentes e
portadores de deficiência. Isso sim é
impopular. Impopular e desumano.
Algo inimaginável para uma nação
que deseja continuar sendo respeitada
no cenário mundial.
O Brasil gasta 13% do PIB com Previdência Social. As nações avançadas
gastam 8% a 9%, tendo uma população mais velha do que a nossa. Os países emergentes gastam cerca de 5%,
citando, como exemplo, não a Índia
nem a China (que estão apenas formando o sistema de proteção aos idosos), mas a Coréia do Sul e o Chile, que
gastam apenas o que arrecadam.
Esse brutal endividamento é nefasto
para o crescimento econômico e progresso social. Para honrar os compromissos previdenciários, o governo
tem de buscar recursos no mercado financeiro (o que eleva a taxa de juros),
usar recursos do superávit primário (o
que inibe os investimentos públicos)
ou aumentar os impostos (o que desestimula os investimentos privados).
Tudo isso vai contra o crescimento e
o progresso. Somando-se os dois meganúmeros -que ultrapassam a fantástica casa dos R$ 2 trilhões-, vê-se
estar aí o principal gargalo do desenvolvimento anêmico do Brasil. É ridículo registrar que, com tantas potencialidades, nosso PIB é cerca de 1% do
PIB mundial!
Neste ano de eleições, os candidatos
evitarão falar sobre esses ajustes. Mas
nós, eleitores, temos de cobrá-los. Afinal, é sua responsabilidade, como governantes, cuidar das contas públicas.
Por isso, eles precisam dizer quais serão as medidas que tomarão para garantir o futuro das próximas gerações.
É uma obrigação moral da qual não
podem se furtar. Democracia é isso!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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