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CLÓVIS ROSSI
Israel e o mal absoluto
JERUSALÉM - Terminou faz pouco, em Israel, uma conferência sobre a
herança dos sobreviventes do Holocausto, a nefanda matança de 6 milhões de judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial (1939/45).
Termina, aliás, em um momento
em que os judeus estão incomodados
com o reaparecimento de atos e de
sentimentos anti-semitas, em particular na Europa ocidental.
Não tenho condições de avaliar até
que ponto a preocupação tem ou não
razão de ser, mas o melhor legado
que está sendo deixado pelos sobreviventes é um manifesto, que talvez venha a ser chamado, no futuro, de
"Declaração de Jerusalém".
Diz, em dado momento, que o Holocausto "estabeleceu o padrão do
mal absoluto". Mais: "As lições do
Holocausto devem servir como código cultural para estimular a educação para valores humanos, democracia, direitos humanos e tolerância".
É formidável que sobreviventes do
horror sejam capazes de pregar tais
valores em vez de se cevarem no ódio
e no desejo de vingança. É, aliás, um
código de valores que deveria servir
para o conjunto da humanidade, sobrevivente de outros horrores menos
absolutos.
Mas deveria servir também para os
líderes do Estado de Israel. O desrespeito aos direitos humanos dos palestinos tem sido constante, como atestam entidades locais e internacionais. O único país democrático do
Oriente Médio, como é Israel, trata os
árabes israelenses como cidadãos de
segunda classe, o que não é exatamente exemplar do ponto de vista democrático.
E seria preciso muita boa vontade
para achar que tolerância tem sido a
regra no comportamento de Israel
nos últimos muitos anos.
Já sei qual é o argumento contrário:
são os árabes em geral -e os palestinos em particular- que provocam,
com sua violência, os males que Israel
acaba por lhes impor. Ainda que fosse verdade, o que é, no mínimo, discutível, fica a lição dos sobreviventes
do Holocausto. Eles, sim, sofreram "o
mal absoluto" e respondem com a
pregação da tolerância.
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