São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Israel e o mal absoluto

JERUSALÉM - Terminou faz pouco, em Israel, uma conferência sobre a herança dos sobreviventes do Holocausto, a nefanda matança de 6 milhões de judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial (1939/45).
Termina, aliás, em um momento em que os judeus estão incomodados com o reaparecimento de atos e de sentimentos anti-semitas, em particular na Europa ocidental.
Não tenho condições de avaliar até que ponto a preocupação tem ou não razão de ser, mas o melhor legado que está sendo deixado pelos sobreviventes é um manifesto, que talvez venha a ser chamado, no futuro, de "Declaração de Jerusalém".
Diz, em dado momento, que o Holocausto "estabeleceu o padrão do mal absoluto". Mais: "As lições do Holocausto devem servir como código cultural para estimular a educação para valores humanos, democracia, direitos humanos e tolerância".
É formidável que sobreviventes do horror sejam capazes de pregar tais valores em vez de se cevarem no ódio e no desejo de vingança. É, aliás, um código de valores que deveria servir para o conjunto da humanidade, sobrevivente de outros horrores menos absolutos.
Mas deveria servir também para os líderes do Estado de Israel. O desrespeito aos direitos humanos dos palestinos tem sido constante, como atestam entidades locais e internacionais. O único país democrático do Oriente Médio, como é Israel, trata os árabes israelenses como cidadãos de segunda classe, o que não é exatamente exemplar do ponto de vista democrático.
E seria preciso muita boa vontade para achar que tolerância tem sido a regra no comportamento de Israel nos últimos muitos anos.
Já sei qual é o argumento contrário: são os árabes em geral -e os palestinos em particular- que provocam, com sua violência, os males que Israel acaba por lhes impor. Ainda que fosse verdade, o que é, no mínimo, discutível, fica a lição dos sobreviventes do Holocausto. Eles, sim, sofreram "o mal absoluto" e respondem com a pregação da tolerância.


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