![]() São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002 |
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ELIANE CANTANHÊDE O "caladão" e o caladinho
BRASÍLIA - Armínio Fraga é economista, professor, viajou o mundo e
hoje preside o Banco Central. Por isso
tem todo o direito de opinar e enriquecer os debates do governo.
Mas Armínio está sendo curioso.
Foi ele quem indicou Luiz Schymura
para a presidência da Anatel (agência reguladora das teles) e simultaneamente encampou o documento
da BCP (empresa privada de telefonia) que era contrário à política do
setor e pedia aumento de tarifas.
Não há aqui nenhum tipo de insinuação contra Armínio, que se tem
colocado acima de qualquer suspeita.
O que há são dúvidas:
1 - Por que o presidente do BC botou a mão nessa cumbuca? Ele teme
que, depois do "apagão" da energia,
a próxima ameaça seja o "caladão"
dos telefones?
2 - O presidente interino da Anatel,
Antonio Valente, acusou a BCP, uma
empresa privada, de usar o BC como
atalho para levar o papelucho de críticas direto ao Planalto. Valente podia agir como fêmea cuidando do filhote ou tinha de ficar caladinho?
3 - O Planalto acionou a Comissão
de Ética contra Valente por expor divergências publicamente. Mas o que
interessa não é quem falou ou como
falou, mas o que falou. Afinal, há ou
não risco de "caladão"?
É isso que todo mundo quer saber,
mais ainda depois que a população
reagiu ao "apagão" desligando até a
geladeira e está sendo punida com o
aumento da conta de luz para compensar "perdas do setor". Ou seja, das
companhias privatizadas. Quando
tudo dá certo, o lucro é delas. Quando algo dá errado, o prejuízo é nosso.
Em vez de comissões de ética para
dizer quem tem de calar, o governo
deveria acionar os esquemas para
que os telefones não fiquem mudos
ou mais caros. Os riscos, na verdade,
são dois: primeiro, o "caladão"; depois, o consumidor ser obrigado a
contribuir com uma "caixinha" para
as empresas. Ou sei lá para o quê.
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