São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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GABRIELA WOLTHERS

Discurso em ruínas

RIO DE JANEIRO - As imagens das ruínas em que se transformou o campo de refugiados em Jenin não servem apenas para confirmar a devastação provocada por Israel nos territórios palestinos. Elas também jogam por terra o discurso do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon de que a operação tem o único objetivo de eliminar focos de terrorismo.
Para que o raciocínio de Sharon fizesse algum sentido, seria preciso concluir que todo o centro de Jenin era frequentado por terroristas. OK, os militares alegam que, além de destruir as casas onde estavam os terroristas, umas outras tiveram de ser derrubadas para permitir a movimentação dos tanques. Só resta colocar em dúvida a perícia dos motoristas desses tanques, já que não sobrou pedra sobre pedra no local.
Como o Exército israelense é conhecido por seu profissionalismo, faz mais sentido acreditar que eles entraram em Jenin com a missão de deixar a terra arrasada. Não só prender terroristas, mas dar uma lição nos palestinos, mostrar com quem está a força. Vingar os israelenses mortos pelos homens-bomba.
Há quem considere justo esse olho por olho, dente por dente. Mas essas mesmas pessoas devem admitir que as práticas do Exército israelense se igualam às dos próprios homens-bomba, práticas essas que Sharon diz combater.
Dostoiévski já escreveu que não compreendia por que os homens consideram mais glorioso bombardear uma cidade do que assassinar alguém a machadadas. Se ele não entendia, quem sou eu para explicar? Passo a missão aos partidários de Ariel Sharon.


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