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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Entre 25% e 26%

ASSUNÇÃO - Nasceu anteontem o novo líder da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Novo é maneira de dizer: trata-se de um velho conhecido, chamado Fernando Henrique Cardoso.
Não há outra interpretação lógica para a entrevista simulada em que FHC critica o governo Lula. Se algum jornalista o tivesse procurado, ainda seria possível dizer que o ex-presidente simplesmente respondera a perguntas, com críticas ou sem elas.
Ao tomar ele próprio a iniciativa, ao ter a mais absoluta liberdade para decidir os temas e os enfoques, FHC deu um passo deliberado para oferecer ao público uma outra visão político-administrativa. Qualifico mais adiante essa frase.
Antes, é preciso dizer que a liderança oposicionista que FHC vem de assumir nasce não apenas de sua própria iniciativa mas também da reação de Lula, em primeiro lugar, e de toda a "entourage" presidencial (pelo menos daquela que esteve em Assunção nos dois últimos dias).
A irritação com a análise do ex-presidente e o gozo com a resposta que Lula deu no discurso em Pelotas mostram, nitidamente, que FHC tocou em cordas sensíveis. Mais sensíveis ainda porque Lula se sentiu golpeado no pior momento de seus tenros seis meses de governo.
Agora, a qualificação da "outra visão político-administrativa". O triste nessa história toda é precisamente o fato de que não se trata de outra política, mas apenas de dosagem. FHC deixa clara essa pequena diferença ao dizer que Lula exagerou na dose (dos juros). Omite o fato de que a dose original, impingida pelo próprio Fernando Henrique, já era letal para a atividade econômica.
Postas as coisas de outra maneira e correndo o risco da simplificação, o fato é que o Brasil está aprisionado entre juros de 25%, com os quais Fernando Henrique fechou seu governo, e juros de 26%, o patamar atual, depois do corte de fabuloso meio ponto operado ontem pelo BC.
Não é exatamente para sair por aí soltando rojões, não é mesmo?


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