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CLÓVIS ROSSI
Entre 25% e 26%
ASSUNÇÃO - Nasceu anteontem o novo líder da oposição ao governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Novo é maneira de dizer: trata-se de um velho
conhecido, chamado Fernando Henrique Cardoso.
Não há outra interpretação lógica
para a entrevista simulada em que
FHC critica o governo Lula. Se algum
jornalista o tivesse procurado, ainda
seria possível dizer que o ex-presidente simplesmente respondera a perguntas, com críticas ou sem elas.
Ao tomar ele próprio a iniciativa,
ao ter a mais absoluta liberdade para
decidir os temas e os enfoques, FHC
deu um passo deliberado para oferecer ao público uma outra visão político-administrativa. Qualifico mais
adiante essa frase.
Antes, é preciso dizer que a liderança oposicionista que FHC vem de assumir nasce não apenas de sua própria iniciativa mas também da reação de Lula, em primeiro lugar, e de
toda a "entourage" presidencial (pelo
menos daquela que esteve em Assunção nos dois últimos dias).
A irritação com a análise do ex-presidente e o gozo com a resposta que
Lula deu no discurso em Pelotas mostram, nitidamente, que FHC tocou
em cordas sensíveis. Mais sensíveis
ainda porque Lula se sentiu golpeado
no pior momento de seus tenros seis
meses de governo.
Agora, a qualificação da "outra visão político-administrativa". O triste
nessa história toda é precisamente o
fato de que não se trata de outra política, mas apenas de dosagem. FHC
deixa clara essa pequena diferença
ao dizer que Lula exagerou na dose
(dos juros). Omite o fato de que a dose original, impingida pelo próprio
Fernando Henrique, já era letal para
a atividade econômica.
Postas as coisas de outra maneira e
correndo o risco da simplificação, o
fato é que o Brasil está aprisionado
entre juros de 25%, com os quais Fernando Henrique fechou seu governo,
e juros de 26%, o patamar atual, depois do corte de fabuloso meio ponto
operado ontem pelo BC.
Não é exatamente para sair por aí
soltando rojões, não é mesmo?
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