|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VALDO CRUZ
O medo do soluço
BRASÍLIA - José Alencar esperneou, a Fiesp exigiu, a Força Sindical ameaçou, os petistas moderados e radicais
esbravejaram, até o presidente Lula,
ao pé do ouvido de Palocci, implorou.
E o Banco Central, enfim, reduziu as
taxas de juros.
Todos respiraram aliviados? Nem
tanto. Foi uma queda quase insignificante, de 0,5 ponto percentual. Os
juros básicos da economia continuam lá nas alturas, em 26%.
O corte tímido, por sinal, deixa os
juros reais praticamente onde estavam, como bem observa o repórter
Gustavo Patú. Projetando a inflação
para os próximos 12 meses, eles até
sofreram uma leve alta, mesmo com
a queda da taxa nominal.
Ou seja, a redução foi mais simbólica, uma tentativa de inverter a curva
das expectativas pessimistas sobre o
desempenho da economia. E uma
forma de atenuar as pressões políticas sobre o governo Lula.
Elas ficariam insuportáveis se o BC
resolvesse fazer pirraça novamente,
como disse o vice-presidente sobre a
última reunião do Copom -quando
os juros não caíram. Não faltaria
quem pedisse a cabeça de Henrique
Meirelles dentro do governo.
O fato é que Luiz Inácio Lula da Silva ganhou fôlego. Poderá dizer que
seu governo começou a baixar os juros depois de ter sido obrigado a adotar uma política monetária austera
para controlar uma inflação herdada
do governo FHC.
A pequena redução não chega a ser
a decisão dos sonhos do presidente.
Mas ele ficou convencido de que não
era possível promover uma queda
mais forte neste momento.
O governo temia errar na dose e
provocar um soluço na inflação nos
próximos meses. O assunto foi tema
de conversa da equipe de Lula. Chegou-se à conclusão de que seria péssimo ter de subir os juros de novo, pouco tempo depois de reduzi-los.
A opção, então, foi o caminho conservador, porém seguro. Assim pensa
o governo. Na vida real, muita gente
dirá: faltou ousadia.
Texto Anterior: Assunção - Clóvis Rossi: Entre 25% e 26% Próximo Texto: Carlos Heitor Cony: Rio de Janeiro - Saco de espantos Índice
|