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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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VALDO CRUZ

O medo do soluço

BRASÍLIA - José Alencar esperneou, a Fiesp exigiu, a Força Sindical ameaçou, os petistas moderados e radicais esbravejaram, até o presidente Lula, ao pé do ouvido de Palocci, implorou. E o Banco Central, enfim, reduziu as taxas de juros.
Todos respiraram aliviados? Nem tanto. Foi uma queda quase insignificante, de 0,5 ponto percentual. Os juros básicos da economia continuam lá nas alturas, em 26%.
O corte tímido, por sinal, deixa os juros reais praticamente onde estavam, como bem observa o repórter Gustavo Patú. Projetando a inflação para os próximos 12 meses, eles até sofreram uma leve alta, mesmo com a queda da taxa nominal.
Ou seja, a redução foi mais simbólica, uma tentativa de inverter a curva das expectativas pessimistas sobre o desempenho da economia. E uma forma de atenuar as pressões políticas sobre o governo Lula.
Elas ficariam insuportáveis se o BC resolvesse fazer pirraça novamente, como disse o vice-presidente sobre a última reunião do Copom -quando os juros não caíram. Não faltaria quem pedisse a cabeça de Henrique Meirelles dentro do governo.
O fato é que Luiz Inácio Lula da Silva ganhou fôlego. Poderá dizer que seu governo começou a baixar os juros depois de ter sido obrigado a adotar uma política monetária austera para controlar uma inflação herdada do governo FHC.
A pequena redução não chega a ser a decisão dos sonhos do presidente. Mas ele ficou convencido de que não era possível promover uma queda mais forte neste momento.
O governo temia errar na dose e provocar um soluço na inflação nos próximos meses. O assunto foi tema de conversa da equipe de Lula. Chegou-se à conclusão de que seria péssimo ter de subir os juros de novo, pouco tempo depois de reduzi-los.
A opção, então, foi o caminho conservador, porém seguro. Assim pensa o governo. Na vida real, muita gente dirá: faltou ousadia.


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