São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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O RIOCENTRO REABERTO

O caso Riocentro está sendo reaberto após 18 anos. O presidente do STM (Superior Tribunal Militar) determinou o envio ao Ministério Público Militar dos documentos originais do IPM (inquérito policial militar). Espera-se agora a abertura de novo inquérito, solicitado pelo procurador-geral da Justiça Militar, Kleber Coêlho, segundo quem o IPM realizado em 1981 foi uma "ficção" e uma "fantasia absurda".
Pouca gente duvida que a bomba que explodiu no carro Puma, na noite de 30 de abril de 1981, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o então capitão Wilson Machado, hoje tenente-coronel, era instrumento de um atentado frustrado, que seria praticado pelas próprias vítimas. Segundo todas as evidências, ele teria sido planejado por setores de extrema-direita, militares ou policiais, insatisfeitos com os rumos do processo de abertura democrática.
A opinião pública não deve mais conviver com a mentira oficial, consagrada no laudo do IPM; o país está maduro para esclarecer esse caso definitivamente e punir os eventuais responsáveis pelo que poderia ter sido uma tragédia muito pior.
Se não há razões para insuflar nenhum tipo de revanchismo, não há por que privar a sociedade do direito de conhecer a verdade. O governo de Fernando Henrique Cardoso tomou uma importante decisão ao sancionar a lei que permitiu indenizar as famílias dos desaparecidos políticos durante os anos 60 e 70. O Estado brasileiro assumiu a responsabilidade pela morte de pessoas que deveriam estar sob sua guarda.
Em relação ao atentado do Riocentro, é preciso frisar que os eventuais responsáveis não podem ser beneficiados pela Lei da Anistia, que abrange crimes cometidos entre setembro de 1961 e agosto de 1979. O crime tampouco está prescrito, já que houve uma morte e o prazo de prescrição nesses casos é de 20 anos.
Uma vez reaberto, espera-se que o novo processo do Riocentro seja conduzido de maneira sensata e transparente, seguindo plenamente a observância da lei. Se assim for, o país estará dando um passo a mais para consolidar a sua democracia.


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