|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aos "homens de bem"
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Ofereço ao leitor uma assinatura grátis do "Jornal do Senado"
se ele adivinhar o autor do seguinte
ataque ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Carlos Velloso:
"O ministro Velloso fala em direitos
humanos, mas foi nomeado pelo regime militar e foi ao STF indicado por
Collor".
Não, não foi ninguém do PT nem alguém do que antigamente se chamava
de "resistência à ditadura". Foi ninguém menos que Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado.
Não dá para entender. Ou o senador
entrou em alguma espécie de surto
que o leva a desandar a falar bobagens uma atrás da outra ou acredita
que todo brasileiro, sem uma única
exceção, não tem memória.
Afinal, ACM, depois dos lembretes
sobre o passado recente de Velloso, pede que "os homens de bem" julguem o
presidente do STF. Se o julgamento seguir os dois parâmetros mencionados
pelo senador, o próprio ACM seria
condenado a arder na fogueira, no
mínimo.
Basta lembrar os seguintes fatos, todos coletados no próprio endereço do
senador na Internet:
1 - Foi o primeiro presidente na Bahia da Arena, o partido de sustentação do ciclo militar, cargo que só poderia ser obtido com a subserviência
ao regime de força.
2 - Foi prefeito de Salvador e governador da Bahia (por duas vezes,
aliás), indicado pelo regime militar,
outra função que só mesmo os áulicos
do regime conseguiam obter.
3 - Eleito, por fim, governador da
Bahia pela primeira vez pelo voto popular, em 1990, torna-se um incondicional do governo Collor. Tão incondicional que seu filho, Luís Eduardo
Magalhães, além de ter sido líder de
Collor, foi igualmente o deputado que
fez o discurso em defesa do então presidente, na sessão da Câmara em que
se decidiu o impeachment.
Os "homens de bem" que julguem,
pois, não apenas essa biografia, mas o
deboche da comparação ontem feita.
Texto Anterior: Editorial: O RIOCENTRO REABERTO
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Falta ordem no canil Índice
|