São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Aos "homens de bem"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Ofereço ao leitor uma assinatura grátis do "Jornal do Senado" se ele adivinhar o autor do seguinte ataque ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Carlos Velloso:
"O ministro Velloso fala em direitos humanos, mas foi nomeado pelo regime militar e foi ao STF indicado por Collor".
Não, não foi ninguém do PT nem alguém do que antigamente se chamava de "resistência à ditadura". Foi ninguém menos que Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado.
Não dá para entender. Ou o senador entrou em alguma espécie de surto que o leva a desandar a falar bobagens uma atrás da outra ou acredita que todo brasileiro, sem uma única exceção, não tem memória.
Afinal, ACM, depois dos lembretes sobre o passado recente de Velloso, pede que "os homens de bem" julguem o presidente do STF. Se o julgamento seguir os dois parâmetros mencionados pelo senador, o próprio ACM seria condenado a arder na fogueira, no mínimo.
Basta lembrar os seguintes fatos, todos coletados no próprio endereço do senador na Internet:
1 - Foi o primeiro presidente na Bahia da Arena, o partido de sustentação do ciclo militar, cargo que só poderia ser obtido com a subserviência ao regime de força.
2 - Foi prefeito de Salvador e governador da Bahia (por duas vezes, aliás), indicado pelo regime militar, outra função que só mesmo os áulicos do regime conseguiam obter.
3 - Eleito, por fim, governador da Bahia pela primeira vez pelo voto popular, em 1990, torna-se um incondicional do governo Collor. Tão incondicional que seu filho, Luís Eduardo Magalhães, além de ter sido líder de Collor, foi igualmente o deputado que fez o discurso em defesa do então presidente, na sessão da Câmara em que se decidiu o impeachment.
Os "homens de bem" que julguem, pois, não apenas essa biografia, mas o deboche da comparação ontem feita.


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