São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Falta ordem no canil

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Uma das maiores queixas de FHC é a falta de pessoas qualificadas na hora de convidar alguém para o governo.
O caso de João Batista Campelo, o breve, é um exemplo disso. Imagina-se que o presidente passou três meses pensando arduamente sobre quem deveria comandar a Polícia Federal. Ainda assim, o erro não poderia ter sido maior.
FHC nomeou alguém acusado de torturador. Desagradou ao ministro da Justiça, que ficou emburrado e quase não quis dar posse ao nomeado. Montou um palanque que a oposição adorou, ocupou e deu risadas. Arrancou até uma nota de repúdio de seu próprio partido, o PSDB.
Nas minhas anotações, fui buscar uma definição de FHC para a dificuldade que o presidente diz sentir ao fazer nomeações. Eis o que disse num almoço no dia 11 de junho de 96, no Palácio da Alvorada:
"Eu costumo dizer que temos gatos e cachorros. Os gatos são esses que estão aí, ficam de governo para governo, não saem da casa. Os cachorros são aqueles que a gente traz de fora para dentro. São uns 3.000 que trazemos para o governo, para tocar as coisas. E tudo fica invertido. Os gatos correm atrás dos cachorros o tempo todo. E uma hora as pessoas se cansam. Porque vêm para Brasília, ganham mal, são criticadas... Não aguentam".
Campelo certamente era um gato. Está na PF há 30 anos. O problema é que FHC o escolheu a mando de um cachorro. No caso, os seus assessores na Casa Militar, que teriam apadrinhado o gato Campelo.
Nesse caso, o presidente da República está com um problemão. As pessoas que estão com ele, o cachorros fiéis, podem estar errando. E FHC não está percebendo. Ou não tem coragem para agir, apesar de ver o que se passa.
Sabe-se agora que há muitos cachorros do PSDB, PFL e PPB desejando ejetar o PMDB da aliança governista. São cachorros correndo atrás de cachorros, para usar a imagem de FHC.
Ou o presidente coloca ordem nesse canil ou viverá crise atrás de crise.


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