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Falta ordem no canil
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Uma das maiores queixas
de FHC é a falta de pessoas qualificadas na hora de convidar alguém para
o governo.
O caso de João Batista Campelo, o
breve, é um exemplo disso. Imagina-se
que o presidente passou três meses
pensando arduamente sobre quem deveria comandar a Polícia Federal.
Ainda assim, o erro não poderia ter
sido maior.
FHC nomeou alguém acusado de
torturador. Desagradou ao ministro
da Justiça, que ficou emburrado e
quase não quis dar posse ao nomeado.
Montou um palanque que a oposição
adorou, ocupou e deu risadas. Arrancou até uma nota de repúdio de seu
próprio partido, o PSDB.
Nas minhas anotações, fui buscar
uma definição de FHC para a dificuldade que o presidente diz sentir ao fazer nomeações. Eis o que disse num
almoço no dia 11 de junho de 96, no
Palácio da Alvorada:
"Eu costumo dizer que temos gatos e
cachorros. Os gatos são esses que estão
aí, ficam de governo para governo,
não saem da casa. Os cachorros são
aqueles que a gente traz de fora para
dentro. São uns 3.000 que trazemos
para o governo, para tocar as coisas. E
tudo fica invertido. Os gatos correm
atrás dos cachorros o tempo todo. E
uma hora as pessoas se cansam. Porque vêm para Brasília, ganham mal,
são criticadas... Não aguentam".
Campelo certamente era um gato.
Está na PF há 30 anos. O problema é
que FHC o escolheu a mando de um
cachorro. No caso, os seus assessores
na Casa Militar, que teriam apadrinhado o gato Campelo.
Nesse caso, o presidente da República está com um problemão. As pessoas
que estão com ele, o cachorros fiéis,
podem estar errando. E FHC não está
percebendo. Ou não tem coragem para
agir, apesar de ver o que se passa.
Sabe-se agora que há muitos cachorros do PSDB, PFL e PPB desejando ejetar o PMDB da aliança governista.
São cachorros correndo atrás de cachorros, para usar a imagem de FHC.
Ou o presidente coloca ordem nesse
canil ou viverá crise atrás de crise.
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