São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2000


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CLÓVIS ROSSI

É do governo, sim

SÃO PAULO - Seria melhor, para o próprio governo, silenciar a respeito do caso Eduardo Jorge. Cada vez que alguma autoridade abre a boca ou solta nota oficial, mais as coisas se complicam para o Planalto.
É o caso das declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso em Moçambique, segundo as quais, se houver algum problema, é questão individual, "não de governo".
Não é, não, presidente, é uma questão de governo, sim, senhor. A quantidade de procedimentos turvos já denunciados, envolvendo Eduardo Jorge, não diz respeito à pessoa física de Eduardo Jorge Caldas Pereira, mas à pessoa jurídica do ex-secretário-geral da Presidência da República.
Portanto, diz respeito, claramente, ao governo Fernando Henrique Cardoso, ao qual Eduardo Jorge deve todo o seu poder e toda a sua ascensão funcional e financeira.
Repito o que escrevi ontem neste mesmo espaço: não acredito que FHC tenha metido a mão em dinheiro público. Mas minha crença não o inocenta da responsabilidade política por eventuais irregularidades que venham a ser provadas contra o seu ex-secretário-geral.
A versão adocicada que os amigos do presidente na mídia tentam vender ao público acaba sendo ofensiva para o próprio presidente. Se ele não sabia de nada, se foi enganado, como diz a versão, então estamos diante de um tolinho que, além de assinar sem ler o que lhe entregam seus assessores, ainda não vê nada do que ocorre na sala ao lado da sua.
Aceitar essa versão é tratar FHC não de rainha da Inglaterra, mas de bobo da corte.
Tanto o presidente não é bobo que, na sua fala em Moçambique, não defendeu Eduardo Jorge. Ao contrário, admitiu indiretamente que seu ex-assessor direto pode ter, digamos, problemas. Que, fatalmente, serão problemas de seu chefe também, queira ele ou não.


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