|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
É do governo, sim
SÃO PAULO - Seria melhor, para o próprio governo, silenciar a respeito
do caso Eduardo Jorge. Cada vez que
alguma autoridade abre a boca ou
solta nota oficial, mais as coisas se
complicam para o Planalto.
É o caso das declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso
em Moçambique, segundo as quais,
se houver algum problema, é questão
individual, "não de governo".
Não é, não, presidente, é uma questão de governo, sim, senhor. A quantidade de procedimentos turvos já denunciados, envolvendo Eduardo Jorge, não diz respeito à pessoa física de
Eduardo Jorge Caldas Pereira, mas à
pessoa jurídica do ex-secretário-geral
da Presidência da República.
Portanto, diz respeito, claramente,
ao governo Fernando Henrique Cardoso, ao qual Eduardo Jorge deve todo o seu poder e toda a sua ascensão
funcional e financeira.
Repito o que escrevi ontem neste
mesmo espaço: não acredito que FHC
tenha metido a mão em dinheiro público. Mas minha crença não o inocenta da responsabilidade política
por eventuais irregularidades que venham a ser provadas contra o seu ex-secretário-geral.
A versão adocicada que os amigos
do presidente na mídia tentam vender ao público acaba sendo ofensiva
para o próprio presidente. Se ele não
sabia de nada, se foi enganado, como
diz a versão, então estamos diante de
um tolinho que, além de assinar sem
ler o que lhe entregam seus assessores, ainda não vê nada do que ocorre
na sala ao lado da sua.
Aceitar essa versão é tratar FHC
não de rainha da Inglaterra, mas de
bobo da corte.
Tanto o presidente não é bobo que,
na sua fala em Moçambique, não defendeu Eduardo Jorge. Ao contrário,
admitiu indiretamente que seu ex-assessor direto pode ter, digamos,
problemas. Que, fatalmente, serão
problemas de seu chefe também,
queira ele ou não.
Texto Anterior: Editorial: CABO-DE-GUERRA
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Outro enterro da oposição Índice
|