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CARLOS HEITOR CONY
Fidelidade ao Reich
RIO DE JANEIRO - Acredito sinceramente que o presidente da República
não tenha lido o documento relativo
às verbas do TRT paulista. Impossível o executivo de uma grande empresa ler tudo o que passa pelo seu expediente. Dizem que Getúlio o fazia
-mas os tempos eram outros e menor a papelada oficial.
Apesar disso, sua responsabilidade
no escândalo é inarredável. Preocupado em redesenhar o Estado, em citar Weber, Bobbio e outros intelectuais, ele desdenha a banalidade do
expediente que lhe compete, transferindo os catataus para os homens de
sua confiança.
E aí é que a sua situação se complica. Já teve um chefe de cerimonial
que foi afastado por causa de um
grosso escândalo, o do Sivam. Seu
amigo mais chegado, o falecido Sérgio Motta, ministro todo-poderoso
enquanto durou, foi citado nominalmente como provável corruptor de
congressistas no caso da compra dos
votos pela emenda da reeleição.
Outros homens de sua absoluta
confiança também foram envolvidos
no caso das teles, do Banco Central,
não houve estouro na praça em que,
direta ou indiretamente, não houvesse um dos varões que o presidente da
República alçou ao primeiro escalão.
O presidente não leu o que assinou.
Pediu que esquecessem o que escreveu antes de chegar ao poder. Sua leviandade pelo que assina ou escreve é
espantosa. Não se pode acreditar que
tenha alguma coisa a ver com as contas em Cayman. Em matéria de dinheiro, pessoalmente ele é honesto.
Mesmo assim, fica a dúvida: e se ele
abriu uma conta no exterior sem saber o que estava fazendo?
Um dia, disseram a Hitler que Goering havia roubado quadros de um
museu de Paris, levando-os para seu
museu particular. Hitler sorriu e comentou: ""Ele é fiel ao Reich, é fiel a
mim!". Como os tempos também
eram outros, nem precisou assinar
nada.
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