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LEI DE TALIÃO
Foi o estadista britânico Winston Churchill quem afirmou
que a democracia era "a pior forma
de governo, salvo todas as demais
formas que têm sido experimentadas
de tempos em tempos".
Com efeito, entre os problemas da
democracia conta-se sua vulnerabilidade a teses populistas. E períodos
eleitorais, como o atual, são aqueles
em que essas idéias mais prosperam.
É o que se dá, por exemplo, com o
problema da segurança. Para tentar
abocanhar votos nesse filão, vários
candidatos sugerem mudanças na
legislação. O arco de propostas é amplo. Pode incluir pena de morte, prisão perpétua, redução da maioridade
penal e aumento das penas.
O impacto da segurança sobre o
eleitor é poderoso, mesmo fora do
Brasil. O problema nem precisa ser
muito grave, basta que a percepção o
seja. Na França, por exemplo, o índice de homicídios por 100 mil habitantes por ano é de 2,4. Aqui, é quase
dez vezes maior: 23,5. Mesmo assim,
a preocupação dos franceses com o
tema é um fator que ajudou a reeleger o presidente Jacques Chirac e
dar-lhe maioria no Parlamento.
Dando seguimento às promessas
de campanha, o novo governo francês acaba de propor a redução da
maioridade penal de 16 para 13 anos,
em atitude duramente criticada pelas
entidade de defesa dos direitos civis.
O problema com a maioria dessas
propostas populistas é que elas simplesmente não funcionam. Podem
até satisfazer a sede do eleitor por
vingança, mas não têm impacto considerável sobre a criminalidade. A
reintrodução da pena de morte em
vários Estados dos EUA nos anos 70
não baixou as estatísticas. De modo
análogo, a abolição da pena capital
na França em 1981 não resultou numa explosão de crimes.
A lógica de talião só pode levar a situações como a do Irã, que acaba de
condenar um estuprador a pena singular: ser enfiado num saco e atirado
de um penhasco; na hipótese de sobreviver, será enforcado. Será esse o
Direito a que almejamos?
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