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TENDÊNCIAS/DEBATES
O número de evangélicos cresceu, e daí?
LEVI CORRÊA DE ARAÚJO
Gostaria de informar aos cidadãos que não professam a fé evangélica que o fato de o número de evangélicos ter aumentado significativamente nos últimos anos não quer dizer muita coisa para um grupo de pensadores e líderes formadores de opinião, que seguem o Evangelho de Jesus Cristo.
Esses discípulos do Mestre dos Mestres não ignoram a importância da
quantidade, mas, acima de tudo, valorizam a qualidade, a maturidade e a relevância de ser evangélico em uma sociedade que precisa da contribuição, e não
da imposição da ética cristã.
E, por falar em relevância e pensando
nas grandes denominações brasileiras,
quais são as iniciativas que fogem do assistencialismo estéril, do marketing social, da promoção pessoal e do messianismo pedante dos neo-seguidores do
messias?
Penso que, ao apresentar um pouco
mais de detalhes sobre uma iniciativa
que pretende não ser escrava de pragmatismos e estatística, talvez eu consiga
contribuir para uma leitura mais consubstanciada desse mosaico específico
da sociedade civil denominado "evangélicos", enfatizando, acima de tudo,
que, graças a Deus, não é o único movimento capaz de não se inebriar com os
registros dos institutos de pesquisas
nem se ufanar com as raras manchetes
que nos são simpáticas.
A iniciativa a que me refiro é o Fórum
para a Conscientização do Voto Evangélico no Grande ABC, que surgiu em
1996, como reação ao envolvimento indevido, preconceituoso e discriminatório de evangélicos com políticos de
comportamento suspeito. Foi a partir
daí que um grupo pequeno de idealistas
passou a articular um movimento na
busca de uma nova cultura política regional, por meio da conscientização do
evangélico como cidadão, não apenas
antes, mas durante e depois do voto.
Como era de esperar, líderes evangélicos e políticos ligados a uma mentalidade e um comportamento que envergonham o Evangelho de Cristo foram os
primeiros a oferecer resistências e boicotes, estratégia que usam até hoje.
O comportamento vergonhoso desse
grupo de pessoas assemelha-se ao "jeitinho" de "pensar e fazer" política de outros grupos não-evangélicos. São o mesmo populismo, o mesmo nepotismo, o
mesmo clientelismo, o mesmo fisiologismo que tentam nos submeter à cultura do "toma lá, dá cá" e do "levar vantagem em tudo", espiritualizados por desvios de doutrina como a chamada Teologia da Prosperidade.
Nós não suportamos mais o pecado
de ver "um redil de ovelhas" transformado em "curral eleitoral", envergonhamo-nos ao saber que, em época de
eleições, pastores são abençoados com
"ofertas generosas" de políticos que, repentinamente, decidem "investir" na
obra do Senhor e nos enojamos com
pregações e declarações descaradas, justificando os meios pelos fins a alcançar.
Para não pecarmos generalizando, é
claro que há exceções; raras, mas há.
Nós não suportamos mais o pecado de ver "um redil de ovelhas" transformado em "curral eleitoral"
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É obvio que importa separar desse
"seleto grupo" aqueles que só pensam
no céu, reféns de uma teologia alienada
e antibíblica, merecedores da crítica
pertinente de Karl Marx à religiosidade.
Que Deus nos livre também do grupo
não menos perigoso, de cristãos omissos, que alienadamente se gabam de ser
apolíticos.
Avançando em nosso desejo de respeitar todas as pessoas e, principalmente, a pessoa de nosso Deus e pai, é que
iniciamos o Projeto Segunda Cidadã.
Estamos nos reunindo nas primeiras
segundas-feiras de cada mês para refletir sobre temas relevantes para a nossa
comunidade, tais como ação social,
educação, saúde, segurança, habitação,
ética na política etc. É nosso desejo contar com todas as correntes políticas, sem exceção, participando intensamente
desse projeto, expondo, debatendo e interagindo nesses encontros. Esta é a maneira coerente de construção de uma
sociedade democrática e pluralista.
De setembro do ano passado até este
mês, muitas personalidades da vida pública brasileira nos honraram com sua
presença e idéias. O alto Comando da
Polícia Militar de nossa região esteve
por duas vezes falando sobre segurança
pública. O dr. Raul Cristiano expôs o
projeto Bolsa-Escola, do governo federal; o vereador Carlos Apolinário e a liderança do PGT refletiram sobre problemas do Estado e apresentaram as
propostas de seu partido para dirimi-los; representantes do Executivo e do
Legislativo municipal de Santo André
debateram a Lei do Silêncio Urbano.
De julho a outubro, o Projeto Segunda
Cidadã entrou no ritmo das eleições. Estamos desejosos de ouvir e refletir sobre
os programas de governo de todos os
candidatos, contribuindo para que se
eleve o nível nas campanhas eleitorais,
mas, principalmente, para que possamos votar com consciência e coerência.
Como evangélicos, queremos dar
nossa contribuição significativa para
uma verdadeira transformação de nosso país, em todos os níveis e todas as
áreas, e não nos prestando tão somente
como mero dado estatístico.
Entender o Evangelho de Jesus Cristo
é compreender, antes de tudo, nossa
dupla cidadania, a celestial e a terreal. Se
desprezarmos uma delas, nós seremos
tudo, menos evangélicos.
Levi Corrêa de Araújo, 39, pastor da Primeira Igreja Batista de Santo André, é coordenador do
Fórum Evangélico para a Conscientização do Voto no Grande ABC.
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