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CLÓVIS ROSSI
Lula, Kirchner e o amor
MADRI - Um dia depois de o Luiz Inácio Lula da Silva de hoje ter deixado
Madri, desembarcou o Lula de ontem, na figura de Néstor Kirchner, o
presidente da Argentina.
Como Lula, Kirchner foi à CEOE
(Confederação Espanhola de Organizações Empresariais). Mas, ao contrário do manso Lula, o duro Kirchner "pateó el tablero", como dizem os
argentinos, ou chutou o pau da barraca, como diriam os brasileiros.
Face a face com Telefónica, Santander, BBVA, Repsol e companhia, atacou: "Há uma grande hipocrisia
quando se protesta pela situação
atual tendo remetido exagerados lucros em dólares durante os 90".
Criticou também as empresas locais por terem "apoiado um sistema
que era inviável para a Argentina e
que gerou o caos".
Nem o mais remoto parentesco com
Lula, que encheu de garantias o empresariado e o governo espanhóis.
A diferença fica patente nas reações, por exemplo, de Francisco Luzón, diretor-geral para América Latina do Santander. Luzón, via Folha,
pedira aos empresários brasileiros
agoniados com a falta de crescimento
que "no se pongan nerviosos".
Nervoso ficou Luzón com Kirchner.
Acusou-o praticamente de mentiroso
ao dizer que o banco entrara na Argentina em 1999, sem tempo, portanto, para remeter os "exagerados lucros" citados pelo presidente.
Não sei quem lucra mais com comportamentos tão diferentes: se Kirchner e sua sincera dureza ou se Lula e
sua mansidão talvez excessiva.
Sei que o notável chargista Máximo, do jornal "El País", faz o presidente brasileiro monologar assim na
charge de ontem: "Querem-me os
sindicalistas, os empresários, a direita, a esquerda, os governos, a oposição, os reis e os párias. Não vou acabar esmagado com tanto amor?".
Lembrou-me Eleonora de Lucena,
editora-executiva desta Folha, cobrando do candidato Lula durante a
sabatina promovida pelo jornal
quem ganharia e quem perderia com
seu governo. Kirchner dá a sua resposta dia sim, outro também. Lula
ainda deve a sua.
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