São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

É manipulação

SÃO PAULO - A tática (desconstruir o adversário) parece ser a mesma que a campanha José Serra adotou, com êxito aliás, contra Ciro Gomes.
Mas uma das duas salvas disparadas anteontem contra o PT muda de qualidade e invade o território da manipulação.
No caso de Ciro, o tucanato usou palavras do próprio adversário no contexto em que foram pronunciadas. Fisgou Ciro pela boca.
Mas, no caso do programa de terça-feira, a vida real foi reescrita para caber na propaganda contra o PT.
Refiro-me à exibição do discurso do presidente do PT, deputado José Dirceu, aos professores em greve, no qual fala em bater nas urnas e nas ruas o tucanato, seguido pelas cenas da agressão de professores ao então governador Mário Covas.
O próprio Serra chegou a dizer que, "provavelmente", José Dirceu não foi o responsável pela agressão a Covas. É evidente que não houve relação de causa e efeito entre discurso e agressão. Ela ocorreu porque Covas foi a um ponto de concentração de grevistas, valendo-se do inalienável direito de ir e vir, e acabou sofrendo agressão absolutamente injustificável.
Daí, no entanto, a colar discurso e agressão como cara e coroa da mesma moeda é manipulação.
Há no PSDB quem até justifique esse tipo de apelação grosseira com o argumento de que seja a única maneira de derrubar Lula do pedestal olímpico em que se instalou.
Não é eticamente aceitável (como não é aceitável, de resto, que o PT se omita sobre a tentativa, também sórdida, de envolver Serra em um caso de corrupção mesmo tendo o procurador responsável pela denúncia afirmado que não há prova nenhuma contra o candidato tucano).
Quem imaginou que um segundo turno entre Lula e Serra seria o definitivo diploma de modernidade para a política brasileira pode começar a rever os seus conceitos.


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