São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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PERIGO DE RECESSÃO

O Comitê de Política Monetária (Copom) sancionou as expectativas dos agentes financeiros e elevou a taxa de juro básica para 25% ao ano. A justificativa do BC para a forte elevação foi a necessidade de refrear o movimento ascendente dos índices de inflação, bem como as expectativas em torno do comportamento dos preços no próximo ano.
Consolidou-se um aumento de sete pontos percentuais na taxa básica de juros da economia brasileira num período de 60 dias. Um autêntico choque de juros, na exata contramão do expansionismo monetário implementado pelos principais bancos centrais do mundo. O salto de 18% para 25% ao ano na taxa brasileira elevou em quase 40% o patamar dos juros prevalecente em outubro.
A economia apresenta claros sinais de estagnação. O PIB cresceu apenas 0,9% no terceiro trimestre, em comparação ao período anterior. A renda do trabalho vem caindo seguidamente nos últimos 23 meses. As projeções do Ipea (do governo federal) indicam queda de 3,8% no investimento neste ano. A decisão do Copom deve reverberar negativamente sobre as decisões de gasto das famílias e das corporações. Os consumidores e os empresários já estavam pagando uma taxa de juros média de 45% ao ano, em outubro.
A elevação dos juros também deve fazer aumentar ainda mais o estoque de dívida pública. Uma nova escalada na relação dívida pública/PIB poderá levar o FMI a exigir uma elevação adicional do superávit fiscal do Brasil como contrapartida à liberação de parcelas futuras do empréstimo acertado em agosto. Todos esses efeitos podem alimentar uma espiral recessiva na economia brasileira.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva começará sua gestão praticando a maior taxa básica de juros desde maio de 1999. É fundamental que encontre uma forma para começar a reduzi-la rapidamente. Nem as empresas nem os consumidores brasileiros suportam mais tamanha asfixia monetária.


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