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QUERER E PODER
Se fosse omitida a informação
de que o embaixador Celso
Amorim será o ministro das Relações Exteriores a partir de 1º de janeiro, o teor de sua entrevista publicada
ontem nesta Folha poderia perfeitamente ser confundido com a diretriz
de política externa que tem prevalecido sob Fernando Henrique Cardoso.
Afinal, conferir prioridade à América
do Sul (começando pelo Mercosul),
buscar a multilateralidade nas relações de comércio e resistir, na Alca, à
imposição de cláusulas lesivas ao interesse brasileiro são lugares-comuns na retórica do governo FHC.
Não há discordância quanto às bases dessa política. Elas estão estabelecidas praticamente desde o nascimento da diplomacia brasileira e objetivam matizar o peso natural do gigantismo norte-americano na região
e, assim, construir um espaço para o
desenvolvimento nacional brasileiro.
O problema consiste em encontrar
meios para implementar essas diretrizes quando a influência política,
econômica e sobretudo financeira
dos Estados Unidos parece mais forte do que nunca. O acordo bilateral
de comércio entre os EUA e o Chile
-que restringe sobremaneira o poder do governo chileno de implantar
políticas desenvolvimentistas- é o
exemplo mais recente desse desequilíbrio abissal de forças.
Mas a conjuntura não impede o
Brasil de exercer papel diplomático
ativo e até decisivo na América do
Sul. Há meses ocorre uma deterioração institucional na Venezuela, há
décadas parte da Colômbia está tomada por narcoguerrilhas, o Paraguai vive nova crise política, a Argentina foi lançada à condição de pária
global, o Uruguai necessitou faz
pouco tempo de um auxílio monetário modesto para evitar uma "débâcle" financeira. Em todos esses casos
a presença brasileira tem ficado muito aquém do possível e do desejável.
Não há dúvida de que aumentou o
custo para o exercício de uma diplomacia mais ousada. Mas a um país
continental como o Brasil não resta
alternativa a esse caminho.
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