São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUERER E PODER

Se fosse omitida a informação de que o embaixador Celso Amorim será o ministro das Relações Exteriores a partir de 1º de janeiro, o teor de sua entrevista publicada ontem nesta Folha poderia perfeitamente ser confundido com a diretriz de política externa que tem prevalecido sob Fernando Henrique Cardoso. Afinal, conferir prioridade à América do Sul (começando pelo Mercosul), buscar a multilateralidade nas relações de comércio e resistir, na Alca, à imposição de cláusulas lesivas ao interesse brasileiro são lugares-comuns na retórica do governo FHC.
Não há discordância quanto às bases dessa política. Elas estão estabelecidas praticamente desde o nascimento da diplomacia brasileira e objetivam matizar o peso natural do gigantismo norte-americano na região e, assim, construir um espaço para o desenvolvimento nacional brasileiro.
O problema consiste em encontrar meios para implementar essas diretrizes quando a influência política, econômica e sobretudo financeira dos Estados Unidos parece mais forte do que nunca. O acordo bilateral de comércio entre os EUA e o Chile -que restringe sobremaneira o poder do governo chileno de implantar políticas desenvolvimentistas- é o exemplo mais recente desse desequilíbrio abissal de forças.
Mas a conjuntura não impede o Brasil de exercer papel diplomático ativo e até decisivo na América do Sul. Há meses ocorre uma deterioração institucional na Venezuela, há décadas parte da Colômbia está tomada por narcoguerrilhas, o Paraguai vive nova crise política, a Argentina foi lançada à condição de pária global, o Uruguai necessitou faz pouco tempo de um auxílio monetário modesto para evitar uma "débâcle" financeira. Em todos esses casos a presença brasileira tem ficado muito aquém do possível e do desejável.
Não há dúvida de que aumentou o custo para o exercício de uma diplomacia mais ousada. Mas a um país continental como o Brasil não resta alternativa a esse caminho.


Texto Anterior: Editoriais: PERIGO DE RECESSÃO
Próximo Texto: Editoriais: ALMAS MORTAS

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.