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CLÓVIS ROSSI
Razões x emoções
SÃO PAULO -
Tenho dúvidas sobre o
caráter supostamente escandaloso do
foro privilegiado agora aprovado.
A primeira dúvida foi semeada por
José Dirceu, quando era presidente
do PT. Lembrou Dirceu que Luiza
Erundina, a ex-prefeita de São Paulo,
tinha algo como 55 ações por improbidade administrativa contra ela,
embora seja uma pessoa que ninguém acusa de desonestidade.
Pior: Erundina não tem recursos
para custear advogados para defendê-la em tantos casos.
Não é que Dirceu pregasse o foro
privilegiado, mas algum tipo de solução que permitisse a ex-autoridades
se defenderem sem ficar na miséria
no percurso.
Segunda dúvida: supor que o fato
de ex-autoridades passarem a ser julgadas apenas nas instâncias superiores signifique necessariamente impunidade. A menos que se aceite a tese
de que os tribunais superiores são um
ninho de salafrários dispostos a acobertar todo tipo de crime.
O problema aí parece ser o de falta
de recursos para processar tantos casos, e não o de falta de caráter dos juízes ou, pelo menos, da maioria. Um
problema que vale para muitas outras situações e que deveria ser resolvido de qualquer forma, com ou sem
o foro privilegiado.
O que, sim, pode representar impunidade é uma decisão que o STF está
por tomar e que, na prática, inviabiliza ações por improbidade administrativa, as únicas que permitem o ressarcimento ao Tesouro de dinheiro
mal havido. É outra história.
De todo modo, não há como ignorar que o foro privilegiado vai passar
ao público a impressão de que, mais
uma vez, a impunidade dos poderosos se impôs. Da mesma forma, a
isenção de Imposto de Renda para o
aumento de salários de cerca de 4.000
juizes da União.
Pode ser justo, pode ser legal, pode
ser o que se quiser, mas, para os mortais comuns, a sensação será, sempre,
a de que há eternamente no país soluções para o andar de cima e problemas para o andar de baixo.
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