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CARLOS HEITOR CONY
A régua e o compasso
RIO DE JANEIRO - Os primeiros no
mes do novo ministério, em linhas
gerais, eram esperados e não apenas
evitaram surpresas mas provocaram
elogios e manifestações de agrado.
Tudo leva a crer que os nomes ainda
a serem definidos também o sejam, e
o presidente eleito passará pelo seu
primeiro grande teste de governante.
Lula uniu diversas correntes para
garantir a sua elegibilidade e continuará unindo a mesma frente para
garantir a governabilidade. A única
exceção, até agora explicitada, veio
dos setores ditos radicais do próprio
PT, o que não é surpresa para ninguém. A nomeação do futuro presidente do Banco Central foi considerada uma besta negra pela facção
que aceitou ficar quieta e calada durante a eleição, mas está disposta a
botar o boca no trombone a partir de
agora.
A escolha para tão importante cargo teve um critério técnico, mas a
pergunta que deve ser feita por todos
nós é: qual é a "técnica" que Lula pretende adotar em seu governo que
ameaça mudanças? Técnico por técnico, Arminio Fraga também é técnico e foi combatido esse anos todos pelo PT como um todo.
Pessoalmente, sempre estranhei
que os ministros não fossem pura e
simplesmente técnicos. Desconfio dos
ministérios partidários e, sobretudo,
desconfio dos ministérios de notáveis,
como aquele com que Collor quis desmanchar a crise que o levaria ao impeachment. Não entendo como um
político ou um notável que nunca viu
um pé de couve na vida, que nunca
viu uma vaca, de repente se transforme em ministro da Agricultura. Já tivemos até um ministro de recursos
hídricos sem ninguém saber o que era
isso, a começar pelo próprio ministro.
Um técnico pode ser comparado à
letra que mata, em oposição ao espírito que vivifica. Ele dará braço, régua e compasso ao espírito que presidirá o governo de Lula. E isso é o que
importa -seja para o bem, seja para
o mal.
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