São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Menos quantidade e mais qualidade
AFIZ SADI
Há pletora de médicos na capital e precários serviços de saúde. O governo, nesses últimos oito anos, esqueceu-se do funcionalismo, não reajustando seus vencimentos para acompanhar a inflação que houve nesse tempo todo. Com o grande volume de faculdades, não há formação eficaz de profissionalização; não há residência médica para todos. A graduação é precária, cargas horárias são díspares, muitas desnecessárias para a formação do médico geral. Há necessidade de qualidade profissional, e não de quantidade de médicos, porque estes não podem e não devem ser medíocres. Há que existir bons médicos. É necessário transformar o ensino médico de graduação atual; corrigi-lo será imperativo. Em face dessas considerações, creio que todas as sociedades médicas do país defensoras da ética, da moral, da dignidade pessoal e da população repudiam a abertura dos novos cursos, pois são inúteis e não atendem ao correto exercício da profissão no sentido qualitativo. O MEC deve evitar essa autorização, porque não ajuda o profissional nem a população, mas tão somente os "empresários" da educação. Atualmente a distribuição de profissionais no país é péssima; e os poderes contribuem para isso. Então, o médico necessita de dois ou mais empregos para a sobrevivência, não se atualiza por falta de tempo. Aquele que consegue terminar a residência tenta a carreira universitária, que hoje representa um pequeno emprego a mais, melhora um pouco sua capacidade, especializa-se para obter um espaço mais confortável, porém recebe da instituição um salário ridículo e permanece o resto de sua vida ensinando e atendendo o paciente desprotegido. Vejam-se, por exemplo, as filas intermináveis do SUS. Nada a comentar nesse setor, para evitar redundância. Mais uma alerto à população, aos profissionais, aos intelectuais e principalmente ao governo que não atendam aos "empresários da saúde" e desse "ensino médico", impedindo a abertura de novos cursos de medicina em todo o território nacional. Faço esse apelo, em meu nome, escusas, com toda a autoridade adquirida em dois quartéis de século de ensino médico no país. Afiz Sadi, 68, professor titular de urologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), é membro honorário das academias de Medicina de Minas Gerais e de São Paulo e da Academia Nacional de Saúde. Texto Anterior: Tendências/Debates Ives Gandra Martins: O maior poder da República Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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