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SEM DOCUMENTOS
Numa época em que muito se
fala em cidadania, é constrangedor constatar, como o fez o IBGE,
que 24,4% das crianças nascidas no
Brasil em 2002 não foram registradas
no prazo legal, que é de 90 dias após
o parto. Dos 3,5 milhões de bebês
que nasceram em 2002, 800 mil não
obtiveram certidão de nascimento.
E uma pessoa sem registro civil é
menos do que um cidadão. Ela não
existe para o Estado. Não pode obter
documento algum, o que significa
que não conseguirá seus direitos trabalhistas, não terá condições de matricular-se na escola, abrir conta em banco, tomar empréstimo, obter
aposentadoria ou inscrever-se na
maioria dos programas sociais. Não
poderá casar-se ou viajar para o exterior. Terá dificuldades até mesmo
para ser sepultada.
O fato de uma criança não obter o
registro civil no prazo legal não significa que jamais o terá. Provavelmente o conseguirá no ano seguinte
ao do nascimento ou lá pelos sete
anos, ao inscrever-se numa escola.
Trata-se, porém, de falha uma básica
no acesso a direitos e que torna as estatísticas de registro civil pouco confiáveis para a elaboração de políticas
públicas. Um serviço eficiente de registro de nascimentos é útil para determinar compras de vacinas, planejar construção de escolas etc.
O problema, em princípio, não é
tão difícil de sanar. Já houve um modesto progresso com a aprovação,
em 1997, e implementação, em 2000,
de lei que impede os cartórios de cobrar para registrar uma criança. É
preciso agora ampliar iniciativas como essa. Uma vez que 95% dos bebês nascem em hospitais, uma medida de bom senso seria levar o cartório até os pais, ao invés de esperar
que estes o procurem.
É bom que a palavra "cidadania" tenha entrado para o vocabulário comum do brasileiro. É preciso agora
garantir que o acesso a ela não seja
comprometido por carências básicas
como a falta de documentos.
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