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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Notícias sobre lealdade

SÃO PAULO - Durante a Guerra do Golfo (1991) e depois dela, Tareq Aziz foi a fase visível do regime de Saddam Hussein para o resto do mundo. Chanceler à época e dono de um inglês bastante razoável, era requisitado, dia sim, outro também, pelas CNNs da vida para dar a visão iraquiana dos fatos.
Parecia ser um incondicional do regime, a ponto de ter dado ao filho caçula o nome do ditador. Descobre-se agora que não era incondicional, mas um bajulador, como centenas que proliferam nas imediações do poder em qualquer regime.
Presos o próprio Aziz e Saddam Hussein, o caçula de Aziz passou de Saddam a Zuhair, segundo a agência Associated Press.
Nesse singelo episódio, vai todo um curso de pós-graduação sobre lealdade que deveria ser atentamente observado por qualquer poderoso.
A primeira lição do curso é óbvia, mas, em geral, acaba obscurecida quando o cidadão chega ao poder: lealdade se conhece na adversidade, jamais no bem-bom.
Tomemos, por exemplo, o caso de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente pode confiar, observados os limites naturais de seres humanos, em Dirceu, Gushiken, Dulci e Palocci, que, dizem os jornais, formam o núcleo duro do poder. Afinal, todos eles estavam com Lula quando ele andava tão mal-ajambrado e com a barba tão desgrenhada quanto a de Saddam Hussein hoje.
Mas há, agora, um grupo de gente que dá a seus hipotéticos filhos o nome de Lula mesmo depois de ter conspirado torpemente contra ele durante, por exemplo, a campanha eleitoral de 1989. Empresários, meios de comunicação e incontáveis políticos, hoje "lulistas" desde criancinhas, fizeram o diabo para eleger Fernando Collor.
Essa gente, à primeira contrariedade, dará a seus hipotéticos filhos "Lula" o apelido de "Baiano", o primeiro originalmente aplicado a Lula, com toda a carga pejorativa que carrega em mentes e corações sulistas.
Aí, já será tarde para Lula, mas também para o Brasil.


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