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VINICIUS TORRES FREIRE
A imprevidência tucana de Lula
SÃO PAULO - O início do governo Lula da Silva lembra uma cena do filme
"Lawrence da Arábia". Após tomarem Damasco dos turcos, o arabizado oficial inglês e os líderes tribais
árabes reúnem-se para administrar a
cidade. Criam uma confusão dos diabos, deixam pifar a usina elétrica,
não chegam a acordo sobre decisão
alguma, ameaçam facadas.
Quem deixou faltar luz na verdade
foi FHC, e ninguém puxou a peixeira,
mas a cacofonia sobre a reforma da
Previdência já está de bom tamanho.
Lula convocou um cala-boca tímido.
Mas está na hora de estudar a coisa a
sério, conter o conflito inútil. Pior
ainda é o risco de a reforma de Lula
correr na pista conservadora e fracassada de FHC.
A reforma não pode ser uma guerra
contra os servidores, embora seja inevitável que eles percam parte de seus
benefícios. Mais, tal reforma deveria
ser apenas parte de uma redistribuição geral de fundos públicos. Por fim,
a finalidade da redistribuição (abater déficits e engordar outras políticas
sociais) deve ficar clara. É como se o
Estado pusesse todos os dinheiros públicos na mesa e dissesse: com o que
se vai gastar?
Para que a discussão seja menos
ideológica, seria bom usar dados de
qualidade. O déficit da aposentadoria pública é R$ 53 bilhões mesmo? A
título de comparação com o déficit da
Previdência privada, incluíram nesse
número a contribuição do empregador, o Estado (o gasto público não
muda com a explicação, mas diminui a demonização do servidor)?
Por falar em reforma, alguém vai
discutir a isenção fiscal para a saúde
e a educação da classe média (bilhões)? E a isenção das filantrópicas
falsas? E o fato de a economia do
Norte não existir, sendo sustentada
por incentivo fiscal, abocanhado em
boa parte por industrial paulista e
multinacional? Que cerca de 90% dos
mais de mil municípios criados nos
anos 90 vivem só de repasses, não têm
economia, e sugam renda para a cúpula da miséria local (prefeituras)?
Para um governo que se quer "histórico", o debate está bem pobrinho.
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