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FERNANDO RODRIGUES
Ainda o óbvio na Previdência
BRASÍLIA - Nenhum assunto provoca tantas reações como a Previdência
pública. Chegam dezenas de e-mails
e cartas quando o tema é abordado
neste espaço. Impressiona como os
funcionários do governo conseguem
tempo para essa fecunda comunicação epistolar. Deve ser uma categoria
organizada. Só escrevem, certamente, fora do horário de trabalho.
O mais recente reclamo é que os servidores federais passaram a contribuir com 11% sobre o salário total para fins de aposentadoria a partir do
final dos anos 90. Dizem ser auto-sustentáveis. Os 11% seriam suficientes
para garantir uma pensão igual ao
último salário integral.
Essa premissa contém vários equívocos. Um deles é que ocorrem aumentos de salários. Um funcionário
público promovido no final da carreira -algo comum- causa desequilíbrios no sistema.
O fato de ter contribuído, digamos,
com 11% sobre R$ 3.000 (R$ 330) por
34 anos não terá sido suficiente para
bancar sua aposentadoria integral se
o salário pular para R$ 4.000 ou R$
5.000 no 35º e último ano de trabalho. Esse é o ponto.
Até ilhas da fantasia como a Suécia
já adotaram um sistema previdenciário justo para seus servidores. Cada funcionário contribui com um
percentual mensal. O empregador
(Estado) faz o mesmo. O valor da
aposentadoria depende dos valores
pagos e de como é gerido o fundo de
previdência de cada contribuinte.
É evidente que os servidores públicos devem ter algum tipo de tratamento diferenciado. Aliás, já têm. Os
funcionários do governo têm estabilidade no emprego. É mais fácil Palmeiras e Botafogo voltarem para a
primeira divisão do futebol brasileiro
do que o Estado demitir um de seus
servidores concursados.
O tratamento diferenciado, entretanto, não permite imaginar que o
dinheiro nasça em árvores. Contribuir com 11% sobre o salário total pode ter amenizado o problema da aposentadoria pública, mas não fica nem
perto de ser uma solução.
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