São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NADA DE EXTRAORDINÁRIO

Começou mais uma convocação extraordinária do Congresso Nacional. Há pouco de extraordinário nisso. Desde 1988, quando da promulgação da Constituição, o Parlamento já foi chamado a reunir-se excepcionalmente 17 vezes.
Fica mais fácil compreender essa extravagância quando se considera que nesses casos parlamentares recebem, além do salário ordinário, o equivalente a mais duas remunerações mensais. Essa convocação extraordinária custará aos cofres públicos do país cerca de R$ 50 milhões.
Numa versão algo caricata, uma convocação extraordinária é quando os legisladores, que já contam com férias de quase três meses por ano, recebem dois salários extras para tentar finalizar o trabalho que não foi concluído no "expediente" normal.
Em defesa do Congresso, alguém poderia lembrar que os vencimentos pagos a deputados e senadores não são tão elevados quando comparados a salários de altos cargos na iniciativa privada. A comparação, contudo, cai por terra quando se analisa a função e sua imagem. O Parlamento não é uma empresa privada, e seus membros devem satisfações à população. Se tivessem algum senso de "marketing", seriam os primeiros a desejar reduzir seu período de recesso e a acabar com benefícios difíceis de justificar para a opinião pública. Numa reforma dessa natureza, seria até plausível advogar a elevação dos salários mensais.
A atual situação serve apenas para reforçar a imagem de que parlamentares trabalham pouco e ganham muito, o que, por sua vez, contribui para o desgaste da credibilidade do Congresso e da política.
É claro que o trabalho legislativo tem especificidades que o tornam difícil de comparar com outras atividades. Os políticos, todavia, deveriam ser os primeiros a reconhecer que essas convocações extraordinárias e suas regalias fazem mal à imagem da própria instituição e da democracia.


Texto Anterior: Editoriais: VOLATILIDADE CAMBIAL
Próximo Texto: Madri - Clóvis Rossi: Sai um craque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.