|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NADA DE EXTRAORDINÁRIO
Começou mais uma convocação extraordinária do Congresso Nacional. Há pouco de extraordinário nisso. Desde 1988, quando da
promulgação da Constituição, o Parlamento já foi chamado a reunir-se
excepcionalmente 17 vezes.
Fica mais fácil compreender essa
extravagância quando se considera
que nesses casos parlamentares recebem, além do salário ordinário, o
equivalente a mais duas remunerações mensais. Essa convocação extraordinária custará aos cofres públicos do país cerca de R$ 50 milhões.
Numa versão algo caricata, uma
convocação extraordinária é quando
os legisladores, que já contam com
férias de quase três meses por ano,
recebem dois salários extras para
tentar finalizar o trabalho que não foi
concluído no "expediente" normal.
Em defesa do Congresso, alguém
poderia lembrar que os vencimentos
pagos a deputados e senadores não
são tão elevados quando comparados a salários de altos cargos na iniciativa privada. A comparação, contudo, cai por terra quando se analisa
a função e sua imagem. O Parlamento não é uma empresa privada, e seus
membros devem satisfações à população. Se tivessem algum senso de
"marketing", seriam os primeiros a
desejar reduzir seu período de recesso e a acabar com benefícios difíceis
de justificar para a opinião pública.
Numa reforma dessa natureza, seria
até plausível advogar a elevação dos
salários mensais.
A atual situação serve apenas para
reforçar a imagem de que parlamentares trabalham pouco e ganham
muito, o que, por sua vez, contribui
para o desgaste da credibilidade do
Congresso e da política.
É claro que o trabalho legislativo
tem especificidades que o tornam difícil de comparar com outras atividades. Os políticos, todavia, deveriam
ser os primeiros a reconhecer que essas convocações extraordinárias e
suas regalias fazem mal à imagem da
própria instituição e da democracia.
Texto Anterior: Editoriais: VOLATILIDADE CAMBIAL Próximo Texto: Madri - Clóvis Rossi: Sai um craque Índice
|