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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Governo de manual

LOS ANGELES- Essa história do aumento dos juros, o segundo em 50 dias de governo Lula, parece provocação. Ou então um brinde aos comentaristas, porque o comentário já vem pronto: o medo venceu a esperança, de novo.
No mês passado, quando do primeiro aumento de juros da gestão Lula, Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ainda encantado com o governo de que faz parte, escapou pela aritmética elementar de qualquer comentário mais ácido: o aumento, então de meio ponto percentual, corresponderia a apenas 2% (sobre 25%, o nível da época).
E agora? Em 50 dias, Lula já aumentou os juros em 6%.
Essa brincadeira aritmética é até irrelevante, porque o fundamental é que a grande maioria das pessoas sabe que, do ponto de vista de combate à inflação, aumentar os juros meio ponto, um ponto, um ponto e meio e não aumentar é a mesma coisa.
O objetivo da elevação, conforme os manuais, é reduzir o consumo e, por extensão, conter a inflação. Ora, com o patamar de juros dos últimos anos, só louco (ou desesperado) pega dinheiro -seja a 25%, 26%, 28%.
Reagir burocraticamente, seguindo livro-texto de primeiranista de economia, é tudo o que não se esperava de um governo do PT.
Pior: não há, até agora, o mais remoto sinal de que as coisas vão mudar mais adiante, mesmo que se aceite a discutível e conformista tese de que nada pode ser feito de saída.
Dizem os gurus petistas que a culpa da elevação dos juros é da guerra e da herança do governo anterior. Se é assim, nada mudará. A herança está dada. A guerra independe completamente de qualquer ação, omissão, gesto, iniciativa ou palavra do governo brasileiro.
Será que um partido que se preparou tanto para governar, que fez dossiês sobre praticamente todos os temas da realidade tupiniquim, não tem ao menos uma idéia que não seja seguir cegamente o manual?


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