|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Acusado e acusadores
BRASÍLIA - Magoada, a advogada
Márcia Reis desprezou o conselho do
irmão para ter cuidado e desabafou
ao telefone que o ex-marido, Plácido
Farias, era "beberrão", "irresponsável", "vivia sumindo e chegando em
casa sujo e cheirando a bebida".
No dia seguinte, um então ex e futuro senador telefonou para ilustre
dama baiana advertindo que tivesse
cuidado com Plácido, porque ele não
passava de um "beberrão", de um
"irresponsável" etc. e tal. "Pergunte à
ex-mulher", teria acrescentado.
Plácido Farias é o atual marido de
Adriana Barreto, ex-namorada do
senador ACM. A ilustre dama do telefonema é a mãe de Adriana, aparentemente mais amiga de ACM do
que da própria filha.
Essa "coincidência" entre o que disse a ex-mulher de Plácido e o que ouviu no dia seguinte a atual sogra dele
está sendo considerada, entre advogados, uma das evidências do envolvimento de ACM nos grampos. No
mínimo, ele recebia as gravações.
A versão foi passada à Folha pelo
advogado Sérgio Reis, irmão de Márcia Reis e, portanto, ex-cunhado de
Plácido Farias -com quem mantém
boas relações de amizade. Como
também foi grampeado, Reis acompanha a história e tem interesse direto no desfecho dela. Vai entrar com
processo contra o governo da Bahia.
Neste momento, a situação de
ACM se equilibra num tripé bastante
precário: 1) o policial -a investigação técnica da Polícia Federal; 2) o
político -o vai-não-vai do Congresso quanto à abertura de processo por
falta de decoro parlamentar; 3) o
pessoal -a disposição do casal Plácido-Adriana de ir em frente ou de
recuar depois, claro, de uma boa negociação entre acusado e acusadores.
Se o tripé ficar restrito a investigações lentas e sigilosas da PF e a um
arroubo ou outro de deputados,
ACM já pode comemorar. Mas, se
Plácido e Adriana continuarem alimentando a mídia, ele que se cuide.
Tudo depende do maior juiz: a opinião pública.
O tripé está bambo, e há dois gordinhos que podem jogá-lo no chão. Se
realmente quiserem.
Texto Anterior: Los Angeles - Clóvis Rossi: Governo de manual Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Os ventanistas Índice
|