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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Acusado e acusadores

BRASÍLIA - Magoada, a advogada Márcia Reis desprezou o conselho do irmão para ter cuidado e desabafou ao telefone que o ex-marido, Plácido Farias, era "beberrão", "irresponsável", "vivia sumindo e chegando em casa sujo e cheirando a bebida".
No dia seguinte, um então ex e futuro senador telefonou para ilustre dama baiana advertindo que tivesse cuidado com Plácido, porque ele não passava de um "beberrão", de um "irresponsável" etc. e tal. "Pergunte à ex-mulher", teria acrescentado.
Plácido Farias é o atual marido de Adriana Barreto, ex-namorada do senador ACM. A ilustre dama do telefonema é a mãe de Adriana, aparentemente mais amiga de ACM do que da própria filha.
Essa "coincidência" entre o que disse a ex-mulher de Plácido e o que ouviu no dia seguinte a atual sogra dele está sendo considerada, entre advogados, uma das evidências do envolvimento de ACM nos grampos. No mínimo, ele recebia as gravações.
A versão foi passada à Folha pelo advogado Sérgio Reis, irmão de Márcia Reis e, portanto, ex-cunhado de Plácido Farias -com quem mantém boas relações de amizade. Como também foi grampeado, Reis acompanha a história e tem interesse direto no desfecho dela. Vai entrar com processo contra o governo da Bahia.
Neste momento, a situação de ACM se equilibra num tripé bastante precário: 1) o policial -a investigação técnica da Polícia Federal; 2) o político -o vai-não-vai do Congresso quanto à abertura de processo por falta de decoro parlamentar; 3) o pessoal -a disposição do casal Plácido-Adriana de ir em frente ou de recuar depois, claro, de uma boa negociação entre acusado e acusadores.
Se o tripé ficar restrito a investigações lentas e sigilosas da PF e a um arroubo ou outro de deputados, ACM já pode comemorar. Mas, se Plácido e Adriana continuarem alimentando a mídia, ele que se cuide. Tudo depende do maior juiz: a opinião pública.
O tripé está bambo, e há dois gordinhos que podem jogá-lo no chão. Se realmente quiserem.


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