São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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PREFEITO SOB TUTELA

"A nomeação foi decidida nas conversações entre Maluf e PFL, mas antes de o convite ser levado para Afif Domingos eu fui consultado". Com esta frase, o prefeito paulistano, Celso Pitta, admitiu que é figura voluntariamente secundária na nomeação de seus assessores principais. Com esta frase, Pitta reconhece publicamente, mesmo que não o perceba, que é hoje um prefeito tutelado. Não tem autoridade nem sequer para compor seu secretariado.
Eleito pela população, não presta contas a ela, mas a seu tutor, Paulo Maluf. Subordina a administração da cidade às ambições pessoais do seu chefe, o que agora inclui a distribuição de cargos do primeiro escalão da prefeitura ao PFL em função de composições políticas nacionais.
Celso Pitta já carecia de poder de ação, pois a prefeitura está sem dinheiro, resultado da dilapidação promovida pelo próprio prefeito quando secretário de Maluf, sob ordens deste. No último ano de gestão, o então prefeito realizou obras num ritmo insustentável para eleger seu secretário de Finanças. Eleito, Pitta reconheceu que sua candidatura fora beneficiada pela manipulação irresponsável do erário público. É, pois, além de tutelado e inoperante, um prefeito também desmoralizado. Iludiu a boa-fé dos eleitores.
Um prefeito que, como se já não bastasse o resto, está sub judice, acusado e até condenado em primeira instância pelo envolvimento em várias irregularidades. Encontra-se, ademais, limitado por chantagens de vereadores situacionistas que, percebendo o naufrágio da administração, ameaçam o prefeito com CPIs para não perder o controle sobre as administrações regionais. Loteadas como feudos, as regionais têm sido objeto de várias denúncias de irregularidades, as quais envolvem também funcionários da Câmara Municipal.
A São Paulo de Pitta é, enfim, uma cidade em estado de abandono, que submerge nas chuvas porque não há sequer dinheiro para limpar bueiros entupidos. São vários os sinais de deterioração e de paralisia dos serviços públicos, mas Celso Pitta permanece omisso, como se não fosse co-responsável pelo fiasco.



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