São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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Que liberdade?

CLÓVIS ROSSI
San José (Costa Rica) - O movimento sindical da Costa Rica prometia trazer de 4 a 5 mil pessoas para protestar contra a marginalização dos trabalhadores nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Veio apenas 1% disso, 40 ou 50 pessoas, se tanto, que mal se fizeram notar pelos delegados da Conferência Ministerial da Alca, reunidos no exuberante Hotel Camino Real.
De alguma forma, o fracasso do ato é simbólico do crescente processo de aniquilação do sindicalismo, em andamento pelo menos nos países em desenvolvimento.
Acuado pelo desemprego crescente e/ou pela precarização das condições de trabalho, o sindicalismo não consegue erguer a cabeça e o trabalhador está virando mais e mais mera peça de reposição no processo produtivo.
Na Conferência Ministerial de San José é moeda de troca. Os EUA querem criar um modesto grupo de estudos tanto para discutir a vinculação comércio/regras trabalhistas como para meio ambiente/comércio.
Nenhum dos parceiros topa, exceto o Canadá. São tão reticentes que se negam até a criar um grupo de estudo sobre comércio eletrônico, também proposto pelos EUA, embora todos admitam a necessidade de entender melhor esse novo campo econômico. Mas temem que, se se criar um grupo para comércio eletrônico, entram pela fresta o trabalho e o meio ambiente.
Não está passando nem mesmo a proposta brasileira de um Foro Consultivo Econômico e Social. Os EUA aceitam até com entusiasmo. Os outros rejeitam abrir lugar à mesa de negociações para a sociedade civil.
Há governos que torcem o nariz até para a participação do empresariado, que vem sendo ativa, mas confinados à "sala ao lado". Ficam perto, mas não entram na sala de reunião oficial propriamente dita.
Quanto aos sindicatos de trabalhadores, nem isso. E é liberdade que se discute na Alca. De comércio, claro. É o que conta hoje.



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