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Criança feliz?
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - Números recentes relativos à violência contra crianças e
adolescentes no Rio de Janeiro oferecem possibilidade de uma dolorosa reflexão sobre como sofrem nossos pequenos, as inocentes vítimas de um
cotidiano cada vez mais conturbado.
Os dados são da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência, a Abrapia, e foram coligidos no contexto do programa SOS Criança.
Dados revoltantes esses, embora não
totalmente surpreendentes para quem
conhece um pouco que seja do universo em que vivem as crianças mais desprovidas nesse país.
Ao tabular as denúncias de violências cometidas contra as crianças
-que a ela chegam por telefone, pessoalmente, por fax ou por carta-, a
Abrapia pôde oferecer o seguinte panorama, nada animador:
1) De 936 denúncias registradas,
97% ocorreram no âmbito familiar.
2) Dos tipos de violência apontados,
35% foram de natureza física, 27%
psicológica, 3,5% sexual e 34% originados pela negligência.
3) Entre as crianças vitimadas, 53%
são meninos e 47%, meninas.
4) Com relação aos agressores, predominam os do sexo feminino (62%)
sobre os do masculino (38%)
5) Dado mais estarrecedor revela
que a grande agressora da criança, pelo menos no universo pesquisado pela
Abrapia, é a mãe: 51% dos casos.
Que o Brasil trata mal suas crianças,
isso não é novidade. A sociedade brasileira dita moderna, com todas as
suas deformações, não protege, não
ampara, não orienta.
Seria de esperar que de alguma maneira o núcleo familiar pudesse, então, se contrapor à realidade das ruas.
O que, mostram os números, está longe de acontecer.
Até mesmo a figura da mãe, tão docemente cultuada pelas fantasias
idealistas do imaginário infantil, não
pode ser levada em conta.
Quando se constata que ela é a
maior ameaça que se interpõe no caminho de tantas crianças, o que esperar desses futuros cidadãos?
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