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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O futuro do Iraque

ROGER BRIDGLAND BONE

A era de Saddam Hussein chegou ao fim. Todavia os esforços necessários para reparar os danos causados por tantos anos de brutalidade estão apenas começando. O Iraque é um país abençoado com um potencial extraordinário, que se reflete no talento de seu povo, na diversidade de sua cultura e na abundância de seus recursos naturais. Será necessário, porém, um enorme esforço para concretizar esse potencial. Ao centro desse esforço estará uma forte parceria entre a comunidade internacional e o povo iraquiano, com o objetivo de garantir a paz, prosperidade e estabilidade do Iraque.
O Reino Unido tem um sólido comprometimento com essa parceria. Nossas ações visarão tanto às dificuldades imediatas vividas pela população do Iraque, quanto ao desafio a longo prazo de reconstruir o país e viabilizar a implantação de um governo democrático e representativo por parte do povo iraquiano. Estamos determinados a preservar a integridade territorial do Iraque e ajudar seu povo a planejar um futuro próspero para o país.
Os episódios de desordem civil nas cidades iraquianas demonstram com clareza que os desafios da comunidade internacional não desaparecerão simplesmente com o colapso do partido Baath. O povo iraquiano, livre da ameaça de intimidação, tortura e execução, precisa ter, da comunidade internacional, a garantia de que o vazio deixado pela queda de Saddam será preenchido com o respeito à lei e às liberdades fundamentais dos cidadãos. Com esse objetivo, as forças da coalizão estão trabalhando lado a lado com iraquianos para restabelecer a ordem nas cidades do país.
Outra prioridade imediata é garantir a distribuição de alimentos, água, medicamentos e ajuda humanitária à população do Iraque. As forças britânicas estão à frente das ações que restabelecem o fornecimento de bens essenciais e da organização dos serviços básicos, em colaboração com as agências da ONU e com organizações não-governamentais que atuam na área.
Também estamos diretamente envolvidos no planejamento dos alicerces para o futuro do Iraque. A despeito dos relatos sobre possíveis desentendimentos no âmbito da comunidade internacional acerca das medidas a serem tomadas para garantir a futura governança do país, a realidade é uma só: um amplo consenso no sentido de criar uma nação estável e próspera, livre de armas de destruição em massa e que conviva pacificamente com seus vizinhos.


Estamos determinados a preservar a integridade territorial do Iraque e ajudar seu povo a planejar um futuro próspero


Muito se disse a respeito do papel da ONU nesse processo. A posição do Reino Unido é bastante clara: assim como o Brasil, acreditamos que a Organização das Nações Unidas tenha um papel fundamental na reabilitação do Iraque. Defendemos a adoção de novas resoluções por parte do Conselho de Segurança da ONU que reafirmem a integridade territorial do país, garantam o fornecimento imediato de ajuda humanitária e apóiem uma administração adequada para o Iraque pós-conflito.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, discutiram a importância do envolvimento da ONU nesse processo durante uma reunião realizada semana passada em Atenas.
Apoiamos a formação imediata de uma autoridade interina no Iraque, que assuma rapidamente as funções do governo. A coalizão precisará trabalhar em cooperação com as Nações Unidas na criação desse órgão. No momento certo, esperamos que uma conferência nacional venha a unir representantes autorizados de todos os setores da sociedade iraquiana para aprovar a formação dessa autoridade interina. A reunião realizada no sul do país, em 15 de abril, foi um primeiro passo nesse sentido. É claro que, em última análise, essas decisões cabem ao povo do Iraque.
Conduzir a transição de uma ditadura a uma democracia no Iraque é um grande desafio, para o qual a comunidade internacional terá de contribuir com recursos financeiros e humanos por muitos anos. É uma tarefa desafiadora, mas, certamente, realizável. As rivalidades ancestrais de caráter tribal e étnico não serão eliminadas de um dia para o outro, mas o povo iraquiano tem muito a ganhar com esse processo de cooperação e conciliação.
Alguns exemplos recentes em outros países são encorajadores. No Afeganistão, por exemplo, a população tem, agora, um governo genuinamente representativo. Quase 2 milhões de refugiados que haviam abandonado o pais devido à brutalidade do governo Taleban já retornaram a suas casas. Nos Balcãs, a ditadura foi substituída por uma democracia. A população do Kosovo deixou de viver com medo da perseguição do governo e já começa a usufruir dos privilégios da liberdade, tão comuns nas democracias ocidentais.
A tarefa da comunidade internacional é garantir que o povo iraquiano tenha acesso a esses privilégios. Creio que a contribuição do Brasil para esses esforços seja muito importante. O Reino Unido e o Brasil compartilham a fé na democracia e na importância do respeito aos direitos humanos e à força da lei. Não tenho dúvidas de que, com o apoio da comunidade internacional, em breve esses valores fincarão suas raízes em solo iraquiano, servindo de base para o próspero futuro tão esperado e merecido pelo povo do Iraque.


Sir Roger Bridgland Bone, 58, é embaixador do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte no Brasil.


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