|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DOUTRINA SHARON
O "assassinato seletivo" de
mais um líder do grupo terrorista palestino Hamas por militares
israelenses sugere que o governo do
premiê Ariel Sharon pode ter desistido de buscar um acordo de paz e está
se preparando para reduzir ao máximo os pontos de contato entre israelenses e palestinos.
É nesse contexto que se enquadra a
proposta de Sharon, que recebeu decidido apoio da Casa Branca, de retirada unilateral das tropas israelenses
da faixa de Gaza. É também sob essa
idéia que se inscreve a construção da
cerca para isolar israelenses de palestinos na Cisjordânia.
Não se pretende negar a Israel o direito de autodefesa. O terrorismo palestino é um problema real que precisa ser controlado. A questão é que as
ações tomadas por Sharon tendem a
reforçar a posição dos grupos radicais em detrimento das facções palestinas mais moderadas, com as
quais seria possível chegar a um entendimento dentro do princípio de
trocar terras pela paz. Com efeito, o
assassinato das duas principais lideranças do Hamas em menos de um
mês apenas aumenta a popularidade
do grupo extremista. E o faz à custa
do declinante prestígio da Autoridade Nacional Palestina (ANP), comandada por Iasser Arafat.
Já a cerca, ela talvez pudesse ser
considerada uma medida defensiva
legítima se fosse construída em terras israelenses. Boa parte de seu traçado, porém, se dá em território palestino, o que sugere que Sharon esteja preparando uma nova anexação.
Tudo indica ser verdade, como acusa o governo israelense, que Arafat é
leniente com o terrorismo, mas a
ANP pelo menos reconhece o Estado
de Israel, ao passo que o Hamas tem
como meta destruí-lo. Se aumentar o
prestígio do Hamas entre os palestinos, a título de desarticulá-lo, é a melhor estratégia que o governo Sharon
pôde elaborar, Israel deve esperar
mais problemas em breve.
A meta não deve ser apenas reduzir
os atentados, mas fazer um acordo
que acabe definitivamente com eles.
Texto Anterior: Editoriais: TRANCA PETISTA Próximo Texto: Bruxelas - Clóvis Rossi: Sinistras semelhanças Índice
|