São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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DOUTRINA SHARON

O "assassinato seletivo" de mais um líder do grupo terrorista palestino Hamas por militares israelenses sugere que o governo do premiê Ariel Sharon pode ter desistido de buscar um acordo de paz e está se preparando para reduzir ao máximo os pontos de contato entre israelenses e palestinos.
É nesse contexto que se enquadra a proposta de Sharon, que recebeu decidido apoio da Casa Branca, de retirada unilateral das tropas israelenses da faixa de Gaza. É também sob essa idéia que se inscreve a construção da cerca para isolar israelenses de palestinos na Cisjordânia.
Não se pretende negar a Israel o direito de autodefesa. O terrorismo palestino é um problema real que precisa ser controlado. A questão é que as ações tomadas por Sharon tendem a reforçar a posição dos grupos radicais em detrimento das facções palestinas mais moderadas, com as quais seria possível chegar a um entendimento dentro do princípio de trocar terras pela paz. Com efeito, o assassinato das duas principais lideranças do Hamas em menos de um mês apenas aumenta a popularidade do grupo extremista. E o faz à custa do declinante prestígio da Autoridade Nacional Palestina (ANP), comandada por Iasser Arafat.
Já a cerca, ela talvez pudesse ser considerada uma medida defensiva legítima se fosse construída em terras israelenses. Boa parte de seu traçado, porém, se dá em território palestino, o que sugere que Sharon esteja preparando uma nova anexação.
Tudo indica ser verdade, como acusa o governo israelense, que Arafat é leniente com o terrorismo, mas a ANP pelo menos reconhece o Estado de Israel, ao passo que o Hamas tem como meta destruí-lo. Se aumentar o prestígio do Hamas entre os palestinos, a título de desarticulá-lo, é a melhor estratégia que o governo Sharon pôde elaborar, Israel deve esperar mais problemas em breve.
A meta não deve ser apenas reduzir os atentados, mas fazer um acordo que acabe definitivamente com eles.


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