São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Questão de limite

BRASÍLIA - Do presidente da República e comandante-em-chefe das Forças Armadas para as próprias Forças Armadas: "As suas legítimas aspirações serão contempladas".
Essa promessa, feita ontem por Lula, não é apenas mais um capítulo da novela sobre os soldos militares. É um compromisso do presidente -direto, público e a ser cobrado- com um bom reajuste para oficiais e soldados da Marinha, Exército e Aeronáutica, sem aumento desde janeiro de 2001.
Até aqui, o ministro da Defesa age diplomaticamente, ouvindo as queixas, visitando gabinetes da área econômica e alertando o próprio presidente para a insatisfação das casernas e de altas esferas militares. Nem precisava. Bastava Lula ler, pela imprensa, as queixas dos três comandantes e as manifestações da reserva e de familiares do pessoal da ativa.
Agora, todo mundo já falou. Uns cobraram, outros negociaram, o ministro deu um "cala a boca" nos que andavam falando demais e, por último, quem manda em todos fez a promessa. Tudo isso para dar no que já era mais ou menos esperado: é provável que os militares tenham 10% neste ano, com a perspectiva de mais um tanto em 2005, em parcelas.
Na onda, discute-se também a relação dos militares com a segurança pública. Além da intenção crescente de usar o Exército no Rio, há outra discussão bem avançada: a criação de uma espécie de Guarda Nacional, reunindo polícias militares e civis sob um comando federal. Para tratamentos de choque, claro.
As reações do governo a tantas pressões -de militares, servidores públicos, sem-terra e agentes da PF- têm sido em etapas. Primeiro, perplexo, quis mostrar que quer ser "democrático", deixando a coisa rolar. Agora, está na fase de tentar ser "firme", cobrando "responsabilidade" e avisando que "tudo tem limite".
A questão é essa: qual é esse limite? Os manifestantes não sabem, o governo também não, e nós, que não temos nada a ver com isso, sabemos menos ainda. Só assistimos, para quer no que vai dar.


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