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CLÓVIS ROSSI
Medo, esperança, impaciência
ASSUNÇÃO - Se há, no Brasil, cada vez mais queixas de que o medo está
vencendo a esperança, na Espanha
dá-se fenômeno exatamente inverso.
O fato de o prêmio Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional
ter sido concedido ao presidente brasileiro é uma aposta em que o slogan
da campanha acabará sendo realidade algum dia.
Como escreve Marta Frechilla, do
jornal conservador "ABC", "as distinções, normalmente, premiam uma
trajetória. No entanto, o jurado do
prêmio Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional 2003 fez ontem (anteontem) uma aposta pelo futuro. Como expressou seu presidente,
Leopoldo Calvo Sotelo, decidiu premiar a esperança que representa o
projeto político e social de Luiz Inácio
Lula da Silva".
De carona no prestígio da família
real espanhola e de tudo o que se diga
respeito a ela (o príncipe de Astúrias,
Felipe, é filho do rei Juan Carlos, aliás
extraordinária figura histórica), a
mídia espanhola endeusou Lula de
uma forma que nem a mais governista das publicações brasileiras teria
coragem de fazer.
É uma "referência moral", para o
jornal "El Mundo". "É o redentor dos
pobres, o príncipe dos pobres, príncipe do Brasil", para "La Razón".
Trata-se de uma clara indicação de
que, fora do Brasil, a aposta em Lula
continua forte. O que é fácil de explicar: é sedutor sonhar com um governante capaz de combinar a ortodoxia econômico-financeira com o ataque eficaz ao drama social.
Já no Brasil, um (justificado) sinal
de crescente impaciência vem de um
leitor de São José dos Campos, cujo
nome preservo por não ter obtido autorização para divulgá-lo até a hora
de escrever.
O leitor lembra a frase de Lula segundo a qual teve de esperar nove
meses para que nascesse seu filho e
mais quase um ano para que ele falasse "papai". Engata:
"O Brasil já nasceu há 503 anos (ou
há 181 anos, se considerarmos a Independência). Quanto tempo ainda vamos esperar para ele falar papai?".
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