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MARCELO BERABA
O Rio é assim
RIO DE JANEIRO - É surpreendente que uma pesquisa internacional
aponte o Rio, entre 23 grandes cidades do mundo, como a mais amigável
e simpática.
Surpreendente porque nós já a imaginávamos completamente enrijecida e insensível. Mas a pesquisa, feita
por uma universidade da Califórnia,
comprova que, apesar de maltratada
e perigosa, a cidade ainda está viva e
solidária. Sua alma sobrevive, apesar
dos pesares, e deve ter um estoque infinito de otimismo para persistir tão
generosa.
Essa generosidade é um milagre de
resistência. Resistência à especulação
imobiliária que desfigurou e continua a desfigurar a estampa da cidade. Resistência à sequência de governos estaduais e municipais medíocres
e gananciosos. Resistência à destruição paulatina do ambiente suburbano. Resistência ao esvaziamento econômico e ao crescimento do exército
de desempregados e de pedintes. Resistência à corrupção, à manipulação, à cara-de-pau.
É um milagre que esse espírito solidário tenha sobrevivido, principalmente, à expansão e ao domínio absoluto do narcotráfico, presença armada, violenta e intimidadora desde
o início dos anos 80. Domínio esse
que subjugou as favelas e bairros pobres, que gerou os condomínios militarizados e a cultura do medo, que
esvaziou as ruas à noite, que transformou várias áreas da cidade em zonas de guerra, que vem provocando
tragédias diárias e infernizando as
vidas de todos.
Há vida no Rio além dos propinodutos, dos fernandinhos e sussuquinhas, da promiscuidade entre polícia
e bandido, da falta de transparência
de seus administradores.
A pesquisa mostra, e a gente constata nas pequenas coisas do dia-a-dia, que o Rio não perdeu um toque
de civilidade, de bom humor e de disposição para curtir os prazeres que
esta cidade ainda guarda.
Tem coisas que só acontecem no
Rio.
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