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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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MARCELO BERABA

O Rio é assim

RIO DE JANEIRO - É surpreendente que uma pesquisa internacional aponte o Rio, entre 23 grandes cidades do mundo, como a mais amigável e simpática.
Surpreendente porque nós já a imaginávamos completamente enrijecida e insensível. Mas a pesquisa, feita por uma universidade da Califórnia, comprova que, apesar de maltratada e perigosa, a cidade ainda está viva e solidária. Sua alma sobrevive, apesar dos pesares, e deve ter um estoque infinito de otimismo para persistir tão generosa.
Essa generosidade é um milagre de resistência. Resistência à especulação imobiliária que desfigurou e continua a desfigurar a estampa da cidade. Resistência à sequência de governos estaduais e municipais medíocres e gananciosos. Resistência à destruição paulatina do ambiente suburbano. Resistência ao esvaziamento econômico e ao crescimento do exército de desempregados e de pedintes. Resistência à corrupção, à manipulação, à cara-de-pau.
É um milagre que esse espírito solidário tenha sobrevivido, principalmente, à expansão e ao domínio absoluto do narcotráfico, presença armada, violenta e intimidadora desde o início dos anos 80. Domínio esse que subjugou as favelas e bairros pobres, que gerou os condomínios militarizados e a cultura do medo, que esvaziou as ruas à noite, que transformou várias áreas da cidade em zonas de guerra, que vem provocando tragédias diárias e infernizando as vidas de todos.
Há vida no Rio além dos propinodutos, dos fernandinhos e sussuquinhas, da promiscuidade entre polícia e bandido, da falta de transparência de seus administradores.
A pesquisa mostra, e a gente constata nas pequenas coisas do dia-a-dia, que o Rio não perdeu um toque de civilidade, de bom humor e de disposição para curtir os prazeres que esta cidade ainda guarda.
Tem coisas que só acontecem no Rio.


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