São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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A IGNOMÍNIA DAS FARC

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia empreendem uma ofensiva para tentar disseminar o terror pelo país. A tática utilizada foi a de decretar uma espécie de "impeachment" cesarista sobre todas as autoridades públicas colombianas. Anteontem, "ordenaram" o assassinato ou o sequestro imediato de prefeitos e funcionários de dez Departamentos colombianos. Trata-se de uma intolerável atitude que vai encaminhando a solução do conflito no país vizinho para uma única via, que passa pela necessidade de o governo impor uma derrota militar significativa à guerrilha.
Em fevereiro, o presidente Andrés Pastrana anunciou o fim do diálogo com a guerrilha. As Farc, mesmo tendo obtido concessões inusitadas do governo -que cedeu território do tamanho da Suíça para os guerrilheiros-, não deram nenhuma mostra de que abandonariam seus métodos violentos e transitariam para tornar-se um grupo ou um partido político do "establishment".
Os objetivos políticos da guerrilha originalmente marxista perderam peso considerável desde que, finda a Guerra Fria, suas atividades passaram a ser financiadas pelo narcotráfico e pela indústria dos sequestros. Ou seja, entre as duas formas de transição clássicas dos grupos radicais de esquerda latino-americanos -ou para posições mais moderadas no campo político-partidário, ou para o crime-, as Farc optaram claramente pelo segundo.
A ousadia com que os guerrilheiros respondem à ofensiva do governo faz crer que disputam um tudo ou nada. Decerto um dos perigos, numa situação como essa, é o governo ser tomado por um direitismo exacerbado, que castra direitos dos cidadãos e tolera abusos do tipo dos esquadrões da morte. O Brasil e as autoridades internacionais com interesse no que ocorre na Colômbia devem estar bastante atentos a esse possível "efeito colateral" da guerra civil. Mas não devem hesitar em prestar apoio à ofensiva militar contra a guerrilha.


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