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CLÓVIS ROSSI
Quase civilizados
SÃO PAULO - É animador, além de surpreendente, o diálogo que parte
da oposição, no caso o PT, e o governo vêm mantendo tanto via Itamaraty como via presidente do Banco
Central, Armínio Fraga.
A reunião de anteontem entre Fraga e o principal porta-voz econômico
do PT, deputado Aloizio Mercadante, foi muito civilizado, além de eventualmente produtivo.
Fraga fez uma análise do cenário
nacional e internacional, mas não
cobrou nem tentou impor nada a
Mercadante. O petista, por sua vez,
disse que considera o FMI (Fundo
Monetário Internacional) uma espécie de UTI, à qual só recorre, como é
óbvio, o país que está com saúde econômica fragilizada.
O ideal para o Brasil, portanto, seria curar-se para não precisar ir à
UTI. Como curar-se? Emitindo já todos os sinais de um formidável esforço para reduzir o buraco externo, que
é, enfim, a fragilidade mais óbvia da
economia brasileira. O "já" significa
que o atual governo deveria atuar
nessa direção mexendo, por exemplo,
nos impostos que oneram as exportações ou desencadeando uma "blitz"
de promoção comercial.
Não combinaram nada, a não ser
continuar conversando. Para um
país em que o hábito sempre foi o de
encarar o adversário como inimigo,
trata-se de um saudável passo à frente. Pelo menos na democracia, há adversários, não inimigos.
Da mesma forma, é elogiável o fato
de o Itamaraty, via o embaixador em
Washington, Rubens Barbosa, ter
respaldado as gestões do presidente
do PT, José Dirceu, nos EUA.
Como é óbvio, o país não acaba no
dia 31 de dezembro nem começa tudo
do zero a partir de 1º de janeiro, ganhe quem ganhar.
Mas o jogo político-eleitoral no
Brasil sempre transitou por esse, digamos, aspecto fundacional da eleição. Pode ser mais emocionante, mas
não é necessariamente melhor.
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