São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Quase civilizados

SÃO PAULO - É animador, além de surpreendente, o diálogo que parte da oposição, no caso o PT, e o governo vêm mantendo tanto via Itamaraty como via presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
A reunião de anteontem entre Fraga e o principal porta-voz econômico do PT, deputado Aloizio Mercadante, foi muito civilizado, além de eventualmente produtivo.
Fraga fez uma análise do cenário nacional e internacional, mas não cobrou nem tentou impor nada a Mercadante. O petista, por sua vez, disse que considera o FMI (Fundo Monetário Internacional) uma espécie de UTI, à qual só recorre, como é óbvio, o país que está com saúde econômica fragilizada.
O ideal para o Brasil, portanto, seria curar-se para não precisar ir à UTI. Como curar-se? Emitindo já todos os sinais de um formidável esforço para reduzir o buraco externo, que é, enfim, a fragilidade mais óbvia da economia brasileira. O "já" significa que o atual governo deveria atuar nessa direção mexendo, por exemplo, nos impostos que oneram as exportações ou desencadeando uma "blitz" de promoção comercial.
Não combinaram nada, a não ser continuar conversando. Para um país em que o hábito sempre foi o de encarar o adversário como inimigo, trata-se de um saudável passo à frente. Pelo menos na democracia, há adversários, não inimigos.
Da mesma forma, é elogiável o fato de o Itamaraty, via o embaixador em Washington, Rubens Barbosa, ter respaldado as gestões do presidente do PT, José Dirceu, nos EUA.
Como é óbvio, o país não acaba no dia 31 de dezembro nem começa tudo do zero a partir de 1º de janeiro, ganhe quem ganhar.
Mas o jogo político-eleitoral no Brasil sempre transitou por esse, digamos, aspecto fundacional da eleição. Pode ser mais emocionante, mas não é necessariamente melhor.


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