São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Lula e a esquerda nos EUA

BRASÍLIA - A centenária publicação de esquerda "The Nation", de Nova York, traz um interessante artigo na sua edição eletrônica mais recente. Pode ser encontrado na internet no endereço www.thenation.com.
O texto é do analista político Steve Cobble. O título é uma pergunta: "A mais importante eleição de 2002?". A resposta vem logo no primeiro parágrafo: "É a do Brasil".
Por quê? Porque, entre outras razões, será mais uma vez uma decisão de um país sob "chantagem" do sistema bancário internacional. Aí o texto começa a ficar curioso, respaldado pela renomada publicação de esquerda. O único candidato citado, e de maneira bem positiva, é Lula (PT). Até aí, tudo bem.
Em tom raivoso, Steve Cobble relata um fato. Afirma que os bancos pressionam. Seria como se dissessem: "Se vocês elegerem o Lula, nós vamos interromper nossos empréstimos, vamos rebaixar suas avaliações de crédito e jogaremos a economia brasileira no caos".
Cobble está certo no atacado, mas errado ao pintar Lula de forma idílica como o grande adversário dos bancos. A direção do PT foge como o diabo da cruz quando alguém enfatiza essa suposta incompatibilidade. O PT deseja ser aceito. Não quer briga nem confronto.
Um banqueiro do JP Morgan Chase, "eleitor" de José Serra, diz tudo sobre um eventual governo petista: "O Lula presidente terá de ser mais católico do que o papa".
Traduzindo: se José Serra contentaria os bancos com um superávit nas contas públicas de 4% do PIB, Lula teria de fazer muito mais. Os banqueiros vão exigir. Acham que vão arrancar do PT posições mais ortodoxas do que as de Delfim Netto. Há exemplos históricos dessa tese. Foi Nixon, e não um democrata, que reatou as relações dos EUA com a China. Aqui, o PT poderá fazer o caminho inverso na economia.
Mas muita gente na esquerda ainda não percebeu nada disso. Nem mesmo na esquerda dos EUA, representada pela "The Nation".


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