São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O novo papa

RIO DE JANEIRO - Nada a ver com a saúde do atual papa. Na imprensa internacional, crescem a cada dia as especulações sobre a possibilidade de uma renúncia -mas, pessoalmente, não creio que o voluntarioso Karol Wojtyla dê uma de Jânio Quadros e peça o boné.
Contudo acho que o tabuleiro pontifical está armado para um novo papa. Digo isso porque o cardeal Tettamanzi acaba de ser designado para Milão, uma das tradicionais plataformas de onde saem os futuros chefes da igreja.
Mais poderosa do que a sede milanesa, há uma tradição suplementar na eleição dos novos pontífices. Todos eles, nos últimos séculos, têm parentes no Brasil. Parece uma condição ""sine qua non". Até mesmo uma eleição surpreendente, como a de um cardeal polonês, em 1978, obedeceu à rotina. João Paulo 2º tem (ou tinha) parentes nos Estados do Paraná e de Santa Catarina.
O antecessor de Tettamanzi na sede de Milão, o cardeal Martini, era considerado o favorito pelos entendidos -apesar de suas qualidades e virtudes, faltava-lhe parentes no Brasil. Há muitos Martinis espalhados pelo mundo, além do vermute famoso.
Mas conheço um Tettamanzi, advogado brilhante por sinal, que leva jeito de pertencer à mesma família. E, como o cardeal também deve possuir qualidades e virtudes, a sua remoção para a capital da Lombardia fecha o circuito que o coloca na pole position para o pódio pontifical.
Ignoro compactamente a relação de causa e efeito que produz um papa somente se houver um primo de 3º ou de 4º grau no Brasil. Culpa do papa ou do Brasil? Quem sabe mérito dos dois? Honestamente, apenas constato, não explico.
Nunca tivemos um prêmio Nobel e nunca demos um papa à cristandade. Somos pentacampeões do mundo em futebol, tivemos campeões na F-1 e ganhamos uma Palma de Ouro em Cannes.
É pouco para o nosso ego. E, enquanto não chega o grande dia, o remédio é nos consolarmos com os primos do papa, que sempre tivemos em abundância.



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