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CARLOS HEITOR CONY
O novo papa
RIO DE JANEIRO - Nada a ver com a saúde do atual papa. Na imprensa
internacional, crescem a cada dia as
especulações sobre a possibilidade de
uma renúncia -mas, pessoalmente,
não creio que o voluntarioso Karol
Wojtyla dê uma de Jânio Quadros e
peça o boné.
Contudo acho que o tabuleiro pontifical está armado para um novo papa. Digo isso porque o cardeal Tettamanzi acaba de ser designado para
Milão, uma das tradicionais plataformas de onde saem os futuros chefes da igreja.
Mais poderosa do que a sede milanesa, há uma tradição suplementar
na eleição dos novos pontífices. Todos eles, nos últimos séculos, têm parentes no Brasil. Parece uma condição ""sine qua non". Até mesmo uma
eleição surpreendente, como a de um
cardeal polonês, em 1978, obedeceu à
rotina. João Paulo 2º tem (ou tinha)
parentes nos Estados do Paraná e de
Santa Catarina.
O antecessor de Tettamanzi na sede
de Milão, o cardeal Martini, era considerado o favorito pelos entendidos
-apesar de suas qualidades e virtudes, faltava-lhe parentes no Brasil.
Há muitos Martinis espalhados pelo
mundo, além do vermute famoso.
Mas conheço um Tettamanzi, advogado brilhante por sinal, que leva
jeito de pertencer à mesma família. E,
como o cardeal também deve possuir
qualidades e virtudes, a sua remoção
para a capital da Lombardia fecha o
circuito que o coloca na pole position
para o pódio pontifical.
Ignoro compactamente a relação
de causa e efeito que produz um papa
somente se houver um primo de 3º ou
de 4º grau no Brasil. Culpa do papa
ou do Brasil? Quem sabe mérito dos
dois? Honestamente, apenas constato, não explico.
Nunca tivemos um prêmio Nobel e
nunca demos um papa à cristandade. Somos pentacampeões do mundo
em futebol, tivemos campeões na F-1
e ganhamos uma Palma de Ouro em
Cannes.
É pouco para o nosso ego. E, enquanto não chega o grande dia, o remédio é nos consolarmos com os primos do papa, que sempre tivemos em
abundância.
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