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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A sacralidade da burrice

MADRI - Volta ao debate na Europa o Pacto de Estabilidade e Crescimento, aquele que, entre outras regras, manda punir com pesada multa o país que, por três anos seguidos, tiver déficit público superior a 3% do PIB (medida da produção de um país).
Note o leitor que o debate é parecido com o que existe no Brasil, mas com o sinal matemático trocado: o governo do PT agarra-se a um SUPERÁVIT brutal (4,25% do PIB) ao passo que, na Europa, é tolerável um DÉFICIT de 3%.
O motivo do debate é simples: a Alemanha e talvez a França devem registrar três anos de déficits já em 2004. Como são os dois principais países da União Européia, insinuam apelar para o "tapetão", mudando as regras do jogo no melhor estilo do futebol tupiniquim.
A pretensão tem lógica. A revista britânica "The Economist" (que odeia o déficit público), no número que está nas bancas, diz que "muitos economistas concordam que faz pouco sentido forçar governos europeus cujas economias estão perto da recessão a cortar o gasto público".
Por que, no Brasil, que também está perto da recessão, faz sentido, manter um superávit tão elevado? Os fanáticos do manual dirão que as condições de financiamento dos governos europeus, mesmo os mais débeis, são mais favoráveis do que as que o Brasil encontra.
Têm razão, mas só parte da razão. No Brasil também não faz o menor sentido impedir o governo de gastar um pouco mais (ou ter um superávit menor) se o rompimento da camisa-de-força puder ajudar a içar a economia do marasmo.
Afinal, mais atividade econômica significa mais arrecadação de imposto, o que ajuda a ter superávit.
É de bom senso que países, pessoas e botequins gastem apenas aquilo que ganham (ou arrecadam). Mas conferir sacralidade ao superávit fiscal (gastar menos do que arrecada, portanto) já é teimosia ou burrice.


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