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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A deprimente pichação de São Paulo

Não vai aqui nenhuma insinuação política, pois não sou filiado a nenhum partido nem sou candidato a nada. Sou um simples paulistano que ama São Paulo de modo profundo e que está horrorizado com a feiúra da cidade, causada pela pichação que domina as paredes, pontes e viadutos de norte a sul e de leste a oeste.
Sei que o problema é de difícil resolução. A pichação é uma forma de agressão física. Faz parte da violência urbana.
Uma interessante pesquisa identificou os sentimentos que movem a atividade dos pichadores: (1) desejo de afirmação pessoal por meio do desafio às regras estabelecidas e da exibição de logotipos e mensagens ininteligíveis; (2) vazio existencial, que reflete uma ausência de amparo emocional e psicológico no seio da família; (3) atração pela aventura e pelo perigo, por meio dos quais procuram mostrar que são fortes e corajosos a despeito da destruição que praticam; (4) ausência de perspectivas de vida decorrentes da falta de oportunidades de trabalho (Maurício da Silva, "Violência nas Escolas e Caos na Sociedade", Editora Virtual, 2000).
É claro que tais sentimentos não podem ser revertidos com mera punição. Enfrentá-los exige uma valorização contínua dos jovens na família, na escola, no trabalho e nos grupos de lazer. Trata-se de ações bastante complexas, de massificação difícil e que demandam tempo.
O que fazer nesse ínterim? A vigilância é indispensável. Não se pode fazer vista grossa a quem agride a propriedade com sujeira e a população com besteira. As autoridades têm de identificar os pichadores.
Concluída essa fase, passa-se à mais difícil, ou seja, a de tentar converter os sentimentos de destruição em condutas de criação. A organização de ambientes de grafitagem pode ajudar a transformar pichadores em artistas -campo no qual já há experiências bem-sucedidas.
Outra medida seria solicitar ao futuro grafiteiro que ajude a limpar o que fez na propriedade alheia. A colaboração na limpeza como condição do exercício da atividade artística visaria canalizar a criatividade para tarefas mais aceitáveis pela sociedade.
Reconheço que tudo isso é insuficiente. Mas, se nada for feito, a sujeira vai aumentar, e isso não pode acontecer. Os "porcolinos" precisam ser contidos. Os cidadãos e contribuintes têm o direito de exigir das autoridades políticas públicas de vigilância e educação que garantam um mínimo de ordem e de limpeza nas cidades onde moram.
Nesse sentido, valeria a pena para as autoridades de São Paulo visitar, com a necessária humildade, a cidade do Rio de Janeiro e várias capitais do Nordeste onde os governantes estão conseguindo manter as cidades limpas e dentro do padrão de belezura com o qual sempre sonhei para o local onde moro e trabalho.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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